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Adaptação e Identidade

Sandra Santos Macedo | C14

EDP ESCELSA

Vitoria | Brasil

Num contexto de globalização as experiências internacionais são cada vez mais valorizadas, trazendo um rótulo de “capacidade de adaptação”, “flexibilidade”, “abertura a diferentes culturas” e outras competências apreciadas pelas empresas.

Mas o que é “flexibilidade, abertura e capacidade de adaptação a uma nova cultura?” Qualquer experiência internacional merece rótulo? Quantas experiências são necessárias para uma “certificação” sem erro?

Dois anos em Barcelona, com duas línguas distintas, trabalhos e biscates variados e vários contratempos fizeram-me crer que seria “adaptável”.

Com esta convicção cheguei ao Brasil há quatro meses, sozinha. Mais propriamente a Vitória, capital do estado de Espírito Santo (de que nunca tinha ouvido falar). Fiz as pesquisas na internet para facilitar o processo de “aculturação” mas nem por isso o impacto do choque foi menor. Pensamos que estamos familiarizados com a cultura brasileira pelos produtos televisivos e pela imigração no país, mas não é exactamente assim e talvez por isso os expatriados no Brasil sejam casos de menor sucesso de “adaptação”,  segundo um orador na formação INOV, em Lisboa. Talvez as expectativas de similaridade, baseadas na nossa relação histórica e numa língua comum, sejam a causa do fracasso. Expectativas distorcidas.  Arrogância? A minha vida levou um giro de 360º. Desde que acordo até que me deito, não consegui manter uma rotina. Tirando o idioma, tudo mudou. Os horários, o clima, as distâncias, os transportes públicos, os veículos privados (com vidros fumados a lembrarem constantemente a insegurança), os serviços lentos e burocráticos, as formas de pagamento (presencial e online), o atendimento nas lojas. A alimentação, os produtos dos super-mercados, os espaços de restauração (cafés, padarias, bares, discotecas, restaurantes) e as áreas de “não fumantes”, o conceito de lazer e diversão, a música, os padrões de beleza, o conceito de moda, os produtos de beleza e serviços estéticos, a saudação num primeiro conhecimento, o uso do telemóvel, a reciclagem, a estrutura da cidade com zonas residenciais apartadas de zonas comerciais e uso de táxi. Os espaços domésticos, os electrodomésticos e os objectos de “faxina”. E de todas estas diferenças, destaco como a mais importante a constante insegurança, os roubos, a criminalidade que implicam estar sempre “ligado” e prevenido, a olhar por detrás do ombro.

O meu estilo de vida mudou radicalmente, desde o trabalho, às tarefas domésticas, ao social, ao ócio, ao consumismo. Sinto-me desenraizada.

Se entrei na cultura? Sim. Se me adaptei? Não. Se valorizo a experiência? Sem dúvida. Faz-me perceber como, dentro no nosso mundinho, ficamos completamente apartados de outras formas de vida.

As culturas vão além dos livros, dos documentários, dos filmes, das viagens turísticas e precisam do quotidiano, das trivialidades e subtilezas de quem vive os lugares, sem ser de passagem. E existem sub-culturas. Esta é a de Vitória, diferente de outras cidades do Brasil. Vitória desafiou (o meu) conceito de adaptabilidade. Fez-me perceber que esta depende do que há de familiar no desconhecido, do que se reconhece na estranheza, do que transforma sem ter que se perder. Do que no meio do alheio nos permite continuar a ser nós próprios. 

Created By: Sandra Marisa Fernandes dos Santos Macedo
Published: 07-07-2010 9:08

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