Skip to main content
   
   
Go Search
Extranet InovContacto
  

Extranet InovContacto > Visão Contacto > Posts > Chapas, chapeiros e pro(cha)prietários
Chapas, chapeiros e pro(cha)prietários

Miguel Fernandes Salgueiro Rêgo | C13 | Bial | Maputo, Moçambique

Qualquer estreante europeu em terras Africanas que pouse os pés pela primeira vez no aeroporto de Mavalane, em Maputo (Moçambique) está a minutos de um choque cultural em todos os sentidos. Podia falar das pessoas, da música e dos costumes, da abominável fossa entre ricos e pobres ou mesmo do tamanho descomunal das mangas, ananases e camarões mas prefiro apresentar “O chapa”.

Num país onde carro e mota são coisas de rico, bicicletas são roubadas diariamente, comboio já existiu e Metro continua a ser apenas uma unidade padrão de medida, “O CHAPA" é sem dúvida, uma das alternativas e um dos fenómenos mais característicos de Moçambique como exemplo fantástico de coordenação entre uma visão empreendedora rudimentar e a necessidade diária de transporte do menos afortunado. É simultaneamente, uma invenção completamente descabida em termos da realidade europeia que por km percorrido viola provavelmente 3 em 3 regras do código da estrada e ocasionalmente um ou outro Direito Humano! Tendo em conta que na prática, o único direito que um peão possui aqui é o direito de permanecer vivo em cada travessia da estrada, estando a prioridade sempre do lado de quem se senta atrás do volante… com passadeira ou sem ela.

Em geral, um “chapa” é uma vulgar carrinha de transporte colectivo com 9 lugares e habilmente ampliados para 15, originária de vários países desenvolvidos do globo e que chegam a África em final de vida mas que subitamente, nas mãos de quem as pode adquirir, ganham novo folgo como se tivessem saído do stand no dia anterior. Apesar das amolgadelas, vidros partidos, música ensurdecedora e uma ou outra raquete de ténis pendurada para melhor identificação do condutor habitual, acontece que considerando a realidade local, desde que tenha rodas, dá para andar, e desde que ande, pode fazer muita gente feliz a um baixo custo… com um preço fixo de 5 ou 10 meticais (aprox. 0,15€ ou 0,30€) para qualquer ponto da cidade, perto, longe, com chuva ou com Sol. Daí a origem do nome: chapa 5 ou chapa 10!

O sistema é simples, cada veículo tem um proprietário, um condutor/chapeiro e um cobrador. Nos vidros, os autocolantes coloridos indicam de onde vem e para onde vai enquanto o cobrador se esforça por atrair vocalmente mais um cliente ao indicar as paragens intermédias entre um ou outro elogio a qualquer transeunte mais vistosa. Nas paragens mais movimentadas, nunca há hora certa de passagem, o que faz com que centenas de pessoas se acumulem à espera do próximo, apesar de haver milhares destas máquinas a circular pela cidade. Num instante e apenas antecipado pelos gritos do cobrador, pára, a pessoa entra, paga a viagem, que por sua vez, no final do dia entrega o resultado ao proprietário e recebe uma comissão fixa.

O que inevitavelmente acontece é que o objectivo do chapeiro é fazer o trajecto o mais depressa possível com o máximo de clientes, de modo a obter mais lucro, daí ser comum ver os chapas com os seus pneus mais carecas que um ovo a em velocidades assombrosas por entre um trânsito pela esquerda, sem regras e em constante sobrelotação de passageiros (por vezes 30), fazendo manobras loucas como circular pelos passeios, em sentido contrário e ultrapassagens em 3ªfila quando a rua apenas tem duas vias, uma para quem vai e outra para quem vem!

Surpreendentemente, tudo isto flui dentro de uma normalidade anormal aos nossos olhos de europeus mas pauta o dia-a-dia da população local que precisa de se deslocar do ponto A para o ponto B. Claro está que inevitavelmente este meio de transporte, pelas precárias condições de segurança que apresenta, é o maior contribuinte para os assombrosos números da sinistralidade nas estradas do país.

Created By: MIGUEL FERNANDES SALGUEIRO RÊGO
Published: 22-01-2010 8:02

Comments

There are no comments yet for this post.

‭(Hidden)‬ Content Editor Web Part ‭[2]‬

Visão Contacto