Estagiando na Mota-Engil tenho uma nova perspectiva sobre a área da construção e da engenharia. Pensamos nós que tudo é fácil, é só pôr tijolo a tijolo e tudo fica pronto. No entanto, nada é assim tão fácil e um processo de construção pode demorar imenso tempo.
Aqui, na Irlanda, a Mota-Engil tem neste momento alguns projectos.
Está presente em trabalhos na auto-estrada, no troço de Nenagh a Limerick, em consórcio com duas empresas irlandesas. Numa extensão de 40Kms, de 38 obras de arte, 24 estão a cargo da sub-empreiteira, Mota-Engil, Engenharia e Construção.
Além deste projecto, a empresa, em consórcio com a Martifer, conseguiu uma das maiores obras do momento em terras irlandesas, o Terminal 2 do aeroporto de Dublin.
Falando um pouco da minha experiência pelo norte da Europa: em termos profissionais, para mim, tudo é novidade. Para quem está habituada a escritórios limpinhos, com todo o material necessário, transportes à porta e roupa empresarial, tudo isso mudou.
O vestiário habitual é calças de ganga que, muito sujas, chegam a casa pela enorme quantidade de pó que provém não só da obra que ocorre em redor do estaleiro como da pedreira (as explosões aqui são perfeitamente habituais mas nos primeiros meses provocam valentes sustos). Os transportes, no meu caso, são à base de boleias, visto que os transportes mais perto se situam a 5kms.
Na área da contabilidade, onde me encontro, o processo não difere muito de Portugal, no entanto com menos condições do que um escritório no centro de uma cidade.
Em termos culturais, os irlandeses dão ainda muita importância à pecuária. Quase tudo o que é cultivado na Irlanda tem como objectivo a alimentação do gado, a não ser os cereais, dando origem ao tão conceituado whisky irlandês. Dão extrema importância ao esplendor de uma casa no meio do campo rodeada dos magníficos prados verdejantes que só aqui se encontram.
Limerick é uma cidade com alguma vida, parece tirada dos filmes pela fachada das casas, a calçada das ruas e o rio que corta a cidade ao meio.
Algo que me despertou a atenção foi a preocupação que existe com os deficientes, algo não muito visto nas ruas portuguesas. Os passeios são bem largos, sem grandes desníveis, os sinais são sonorizados e compostos pelas três cores, têm várias passadeiras ao longo das ruas onde os passeios terminam em rampa, os prédios estão praticamente todos equipados com elevadores largos o suficiente para uma cadeira de rodas.
Em resumo, existem diferenças culturais muito significativas entre Portugal e a Irlanda. As pessoas têm espíritos diferentes, objectivos completamente distintos e os meios para os alcançar não são de todo parecidos. A cultura é outra, os hábitos são diferentes mas, ao contrário de muitas opiniões, a geral, por estes lados, é que Portugal não deixa de ser a nossa casa.