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New Space, um novo olhar sobre o espaço

Marlene Antunes | C24 | Gomspace | Belval, Luxemburgo

Imagem de alta resolução retirada num satélite

Uma nova geração de satélites surgiu no mercado aeroespacial, democratizando a forma como olhamos para o espaço. Mas em que é que difere em relação aos satélites tradicionais? E que implicações é que pode ter para nós?

Em 1957, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra foi lançado pela União Soviética. O “Sputnik” tinha uma massa de 83,6 quilogramas e o tamanho de uma bola de pilates, de diâmetro 58 centímetros. Três anos depois, surgiu o primeiro satélite meteorológico, maior e mais robusto que o anterior, com a capacidade de transmitir imagens da Terra e de assim ser possível a deteção da proximidade de furacões. Os satélites evoluíram e foram-se tornando uma constante nas nossas vidas, sendo tradicionalmente usados para previsões meteorológicas, envio de dados de posicionamento (GPS) e comunicações.

Mas até há uns anos, grande parte dos satélites artificiais lançados para o espaço eram enormes, com dimensões a rondar as de um autocarro e massa de mais de 1000 quilogramas. Muitos satélites começaram a ser enviados para uma orbita longe da Terra (geoestacionária, a cerca de 35 mil quilómetros de distância), onde é possível cobrir de forma constante uma grande secção de território terrestre, com apenas um satélite. Para planear o lançamento de um objeto desta envergadura e desta complexidade e enviá-lo para orbitas tão distantes, são necessários muitos anos de desenvolvimento e muito investimento em capital inicial, não só para cobrir o satélite em si, mas também para o seu  lançamento (quanto mais pesado, mais caro) e como consequência, só instituições governamentais ou grandes empresas seriam capazes de o fazer.

Em anos recentes, os nano-satélites vieram re-inventar a forma como olhamos para o espaço. Um nano-satélite é composto por CubeSats, satélites cúbicos em miniatura com dimensões 10x10x10 centímetros e com a massa de cerca de 1 quilograma, podendo estas unidades ser usadas individualmente ou em conjunto.

Como é de imaginar, o custo de fabricação e lançamento deste tipo de satélites é significativamente mais reduzido, pelo tamanho e massa que comportam.

Agora, não seriam necessárias centenas de milhões de euros para lançar um satélite para o espaço, pelo que um mundo de oportunidades surge diante de nós. Universidades já podem ter projetos espaciais no seu plano educativo, albergando experiências em nano-satélites; novos instrumentos ou materiais podem também ser demonstrados e validados em ambientes hostis a um custo muito mais convidativo; e startups podem criar o seu negócio no espaço.

Neste panorama, onde o espaço passa a ser democratizado, surge a Gomspace, cujo core-business é exatamente baseado em nano-satélites. Assim, todos os seus projetos podem ser vistos como inovadores, tendo em conta que este novo mundo do new space é relativamente novo e cheio de potencial por explorar.

Ao contrário dos satélites tradicionais, os nano-satélites orbitam em faixas muito mais próximas da Terra (a cerca de 2000 quilómetros ou menos), o que faz com que a área de cobertura terrestre por satélite seja muito mais reduzida. Para alcançar mais cobertura, são previsivelmente necessários vários satélites – constelação. Em contrapartida, como estes não são estacionários em relação à Terra, viajam a velocidades relativamente rápidas por partes do mundo que outrora não seriam cobertas tão facilmente, e a atualização de dados passa a ser muito mais frequente, o que abre portas à possibilidade de monitorização de áreas terrestres. E assim, uma das grandes vantagens que encontro neste new space e na sua democratização é a acessibilidade de dados espaciais a países em desenvolvimento, como é o caso da monitorização, que atualmente está a ser feita por um nano-satélite às infraestruturas de um estacão de purificação de águas no Senegal. A Fundação Bill Gates também está a coordenar uma empresa que oferece imagens de zonas rurais da Zâmbia. Assim, é possível mapear cada casa existente, oferecendo informações aos assistentes socias que agora podem saber quantas vacinas trazer, por exemplo, para estas comunidades. Os avanços científicos que muitas universidades estão a fazer também é notório, existindo muitos casos de sucesso.

O potencial é enorme, mas com este, vêm também uma série de desafios.

A monitorização, falada anteriormente, pode eventualmente ser feita de uma forma menos ética, colocando em causa questões de privacidade que todos tanto valorizamos.

Outro desafio, que também é de realçar, vem acentuar o facto de que, com mais satélites, o “lixo” espacial passa a ser um problema que não podemos continuar a ignorar. Calcula-se que os detritos espaciais confiram 95% dos objetos espaciais atualmente a sobrevoar a Terra. De uma forma geral, o lixo espacial é problemático porque pode afetar operações de outros objetos no espaço, criando um imenso prejuízo ou mesmo colocando em risco a vida de astronautas.

Numa tentativa de limpar este espaço em torno da Terra em orbitas baixas, os satélites são reenviados para a nossa atmosfera. Em orbitas elevamos, são enviados para a orbita cemitério.

Parece haver evidencias, no entanto, de que satélites de pequenas dimensões, que são enviados para a atmosfera, queimem totalmente (não correndo o risco de caírem pedaços de materiais no oceano). Apesar de ainda não se saber o que acontece com as cinzas (que podem conter materiais prejudiciais para a nossa saúde, dependendo do satélite), os nano-satélites assumem-se na indústria como o melhor compromisso que podemos ter em termos de poluição do espaço e dos nossos oceanos, tempo de produção, tempo de vida e investimento.

No entanto, tal como não vemos testes experimentais em humanos que vão contra limites éticos estipulados, também não deveríamos ver a nossa privacidade ser invadida contra a nossa vontade, desobedecendo a limites éticos (na minha perspetiva) ainda não estipulados. Considero que questões como o lixo espacial e a privacidade, ainda que difíceis de solucionar, são possíveis. Vamos ainda a tempo de criar mais políticas e mesmo novas tecnologias que façam com que desafios como estes se evitem transformar em problemáticas sérias no futuro.

A evolução dos satélites, tal como a que estamos a presenciar agora, está repleta de desafios e oportunidades. E, tal como a evolução de tudo o que nos rodeia, um sentimento de excitação e entusiasmo cresce em mim, porque apesar dos problemas que estas tecnologias possam levantar, é inevitável que estas se ergam e cresçam, portanto devemos abraçar os desafios, se possível contribuir para um crescimento na direção que consideramos mais acertada, e sobretudo, tentar explorar todas as portas que revoluções tecnológicas como esta nos abrem, com um olhar ético, crítico e vasto.

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Created By: Marlene Sofia Gomes Antunes
Published: 20-11-2020 19:01

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