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Teletrabalho, Moçambique e um capítulo por fechar
Joana Seabra | C24 | ANIMA | Maputo, Moçambique
 
Viagens por Moçambique
Foi no campus que um sonho começou a ser criado e uma experiência a ser idealizada. “Vai ser uma das melhores experiências das vossas vidas”, diziam repetidamente. Comecei a ficar cada vez mais entusiasmada com esta grande oportunidade e foi no último dia que este entusiasmo se tornou algo concreto, com país e empresa identificados.
 
Fiquei radiante quando percebi que ia voltar ao país que me tinha acolhido durante um verão, numa experiência de voluntariado no meio do Niassa.
 
Moçambique já era tão "a minha casa" como Portugal, por ter passado momentos que me marcaram e mudaram profundamente.
 
Até partir, guardava em mim grandes expectativas relativamente ao que me esperava e certas perguntas eram constantes na minha cabeça: “Será que vou gostar da empresa?” “Será que eles vão gostar do meu trabalho?”, “Como será voltar para Moçambique, mas desta vez para uma cidade grande como Maputo?”
 
Assim que aterrei outra vez naquela terra percebi que algo de muito bom me aguardava. Estava de novo "em casa", a finalizar um capítulo que na minha cabeça ainda não estava terminado.
 
A minha empresa era também exatamente o que eu queria. Não era simplesmente um estúdio criativo de design e audiovisual, mas uma empresa muito vocacionada para temas de cariz social. Estava espantada com a qualidade do match do INOV Contacto - não só me tinham colocado naquele país, como tinha sido integrada na empresa que eu procurava e não sabia como encontrar.
 
As relações na empresa estabeleceram-se desde o meu primeiro dia. Já tinha alcunhas, convidavam-me para almoçar e comer gelados ao final do dia.
 
Os projetos eram muito interessantes e motivadores e, desde o início, senti que me davam muitas responsabilidades. Confiaram em mim e no meu trabalho muito rapidamente, e os projetos tornaram-se cada vez mais desafiantes.
 
Fora do trabalho estava também a viver esta experiência em todos os sentidos. Durante a semana íamos a convívios e aproveitávamos os fins de semana para viajar. Até que a pandemia veio pôr fim a estes momentos.
 
Em dias estava a despedir-me dos  colegas de trabalho, a fazer as malas, há tão pouco tempo completamente desfeitas e a voltar para Portugal.
 
A frustração era muita, e a incerteza quanto ao teor da minha decisão atormentava-me. Tive de ambientar-me ao facto deste teletrabalho ser a minha nova realidade durante um tempo incerto.  A empresa tinha enviado todos os trabalhadores para casa, e muita coisa que na minha cabeça era impossível correr bem, acabou por correr lindamente.
 
Numa empresa digital, onde toda a gente tem um computador fixo com software's específicos, eu própria dizia que seria muito difícil pôr toda a gente a trabalhar de casa. Tinha esta visão porque nenhum de nós tem materiais tão avançados em casa, e há trabalhos técnicos que, para terem qualidade precisavam de ser criados na empresa.
 
Para meu espanto, fui-me apercebendo de que tudo era possível. As pessoas reinventaram-se e arranjaram formas de manter a qualidade do trabalho mesmo à distância. A comunicação tornou-se mais forte e a partilha de ideias, reuniões online e o trabalho em equipa tornaram-se ainda mais eficientes.
 
Neste tempo apercebi-me, também, que muita gente anda mais satisfeita por poder gerir o seu tempo da forma mais conveniente, e ter mais tempo de qualidade, tanto para família, como para os seus hobbies.
 
Claro que nem toda a gente estará feliz com esta situação - eu própria não estou. Obviamente que preferia estar no país que me foi atribuído, a viver “uma das melhores experiências da minha vida”, em todos os sentidos da expressão.
 
Preferia sair de casa todos os dias para ir para o meu local de trabalho; preferia discutir ideias presencialmente de forma a envolver-me ainda mais com os meus colegas e com os projetos; preferia viver tudo isto sem estar limitada à distância de um ecrã.
 
Mas nem tudo é mau, e dentro da frustração consigo reconhecer que este vírus me mostrou novas formas de trabalho, e me fez entender que, com um computador e um telemóvel ligados à internet consigo chegar a qualquer parte do mundo.
 
Penso que o irónico desta situação é o facto de muitas das empresas excessivamente tradicionais, que achavam o teletrabalho sinónimo de distrações e pouca produtividade, estão agora a aperceber-se de que poderão ter funcionários mais felizes, e consequentemente maior qualidade de trabalho e melhores resultados. Com toda esta situação retiro também a importância deste mundo tecnológico, que permitiu que o nosso isolamento social não fosse tão solitário - uma oportunidade que não existiria se a COVID19 tivesse chegado uma década atrás.
 
Após tudo isto, concluo que foi preciso uma pandemia vir assolar o mundo, para nos mostrar qual é o futuro do trabalho e  pôr em perspetiva todas estas questões laborais. Mas, na minha cabeça, há certas questões que continuam à espera de resposta: nós, jovens, como estaremos depois de tudo isto? Teremos as mesmas oportunidades de carreira, após esta crise global? Será que se vão esquecer de nós? E a estas perguntas ninguém consegue responder.
 
Até estar mais esclarecida continuarei assim... com a sensação de que, mais uma vez, este capítulo não ficou terminado.
No entanto, também digo com certeza que o irei terminar.
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Created By: Joana Seabra Gomes Domingos
Published: 22-07-2020 10:24

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