Dia 18 de fevereiro entrei num avião com destino a um país que sempre esteve presente na minha vida mas que nunca imaginei visitar. Não porque não quisesse, simplesmente porque foi algo que nunca havia planeado. No espaço de semanas dei comigo a acordar de manhã com o som dos “chapas”, da mamã das mangas a aliciar as pessoas que passavam, o menino dos amendoins a sorrir-me todos os dias quando saía do trabalho, com uma rua cheia de carros e movimento. Posso dizer que rapidamente me acostumei à rotina, ao calor, à simpatia moçambicana, ao ambiente acolhedor da empresa e à amabilidade de todos os que trabalhavam comigo e que tanto me ensinaram em tão pouco tempo.

Mas, o que menos esperava aconteceu. Exatamente um mês após a minha chegada foi necessário regressar a Portugal. A pandemia levou a melhor, ou  assim pensava eu. A verdade veio a revelar-se mais tarde e pôs à prova várias vertentes das minhas capacidades pessoais e profissionais. Eis que me vejo submergida num novo regime de trabalho quando estava ainda em adaptação ao regime considerado “standard”: o tele trabalho. De um momento para o outro, esta é a palavra mais mencionada no mundo a seguir à COVID-19. “Trabalhar a partir de casa será mais simples”, pensava eu. Esta nova moda de regime laboral forçado pela pandemia é bem mais complexa do que aparenta e acarreta todo um leque de soft skills necessárias ao seu sucesso: adaptabilidade, flexibilidade, auto controlo e inteligência emocional são algumas delas.

De repente, não é possível ir à secretária do coordenador esclarecer dúvidas em tempo real, não é possível pedir conselhos aos membros da empresa, não faço mais controlo de encomendas no armazém, não recebo um “bom dia” dos colegas de departamento. No espaço de uma semana estou sozinha em casa, sentada numa cadeira, a ser bombardeada com números de mortes diárias, de infetados, de previsões, de restrições, enquanto me tento focar no meu novo estágio e nas minhas novas funções. A própria entidade de acolhimento tem de se adaptar a tudo isto, sendo que a questão do tele trabalho passa a abranger a maioria dos trabalhadores, para além dos estagiários, o que exige tempo para organizar e planear a logística deste novo sistema. Inicialmente tudo fica confuso para toda a gente, mas com o passar do tempo, toda a equipa se adapta e o trabalho flui.

Posso afirmar com toda a certeza que não é nada fácil. Exige foco, força de vontade, capacidade de adaptação, resiliência e cria novas formas de pensamento e de hábitos de trabalho. É um facto que o tele trabalho nos foi imposto. Contudo, analisando o panorama mundial, a habilidade de ver o lado positivo da situação nunca foi tão valiosa. Inicialmente é difícil, por uma razão muito simples, o confinamento vai contra a natureza humana, vai contra tudo aquilo que é natural em nós... Mas existe algo no ser humano que ultrapassa tudo isso, a resiliência e a capacidade que temos de lidar com o inesperado. Encarei o desafio como qualquer outra pessoa sem experiência iria encarar: cheia de receio, mas movida pela vontade de continuar a aprender! E até agora tem sido uma experiência desafiadora, da qual tenho tirado imensos ensinamentos que contribuem para o meu crescimento, e que me têm provado diariamente que, venha o que vier, eu vou ser capaz de agilizar, confiando em mim e na equipa com quem trabalho!

Em suma, a chave do sucesso do tele trabalho está em manter o profissionalismo, a integridade, o compromisso e a força de vontade, fomentando o trabalho de equipa, aliando tudo isso à inteligência emocional, ao pensamento fora da caixa, e depositando as esperanças no facto de que, aconteça o que acontecer, vai ficar tudo bem!