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Novas formas de financiamento das artes, uma questão inadiável
Anna Luisa Marotti | C24 | Arte Institute | Nova Iorque, EUA

Ana Ventura Miranda

A Ana Ventura Miranda, fundadora e diretora do Arte Institute em Nova Iorque, relata-nos como esta organização enfrentou os desafios que atingiram o setor das Artes durante a pandemia.

O Arte Institute é uma fundação que procura dar espaço à cultura contemporânea portuguesa em Nova Iorque e no Mundo. No panorama da pandemia em que vivemos qual acredita ser a missão principal do Arte Institute?

A missão do Arte Institute continua a ser a promoção e internacionalização dos artistas portugueses. Uma vez que não é possível fazê-lo da forma como costumamos fazer, com shows ao vivo, criámos o RHI Stage exatamente para isso, mas usando plataformas que já tínhamos. Criámos, então, uma forma de os artistas serem pagos. Neste caso é através da app, onde o público pode pagar o valor que quiser, pois nesta altura achamos que não devemos fixar um valor. No entanto, no futuro, se o projeto continuar como um modelo de negócio, provavelmente deverá haver pelo menos um valor mínimo.

É, portanto, dessa forma, que nós achamos que podemos continuar a internacionalizar os artistas. Aliás, quando começámos, e mesmo depois, apesar de hoje termos um pequeno escritório fazíamos tudo online, através do site do Arte Institute. Foi aí que começámos a promover os artistas, a fazer entrevistas, a realizar uma galeria online. No início, eram estes os pontos mais importantes e que nos deram a possibilidade de "arrancar". Depois, os eventos aconteciam num espaço físico, mas era assim que os promovíamos.

Resumindo, o que achamos que é importante é continuar a mostrar os artistas portugueses, através destas plataformas online. Enquanto não for possível realizar eventos em espaços físicos, o melhor será promovê-los através da internet, até porque é uma forma de atingir um público global, chegando a toda a gente. Não é por não haver ter um local físico que deixamos de ter público, pelo contrário, chegamos a toda a gente. Perdemos, no entanto, a experiência física.

O que é que o Arte Institute fez para superar o desafio criado pela pandemia, tendo em conta que todos os eventos culturais planeados tiveram que ser cancelados?

A forma como nós resolvermos a situação dos eventos cancelados foi a abertura de uma janela maior no espaço online. Criámos esse diálogo, que antes aconteceria no espaço físico, e passámos tudo para o online. Não é, obviamente, a mesma coisa, pois um espetáculo online nunca poderá substituir um espetáculo ao vivo.

Na prática, como funciona a iniciativa RHI-Stage?

A iniciativa RHI Stage funciona da seguinte forma: abrimos um call, em que não selecionámos as pessoas. Tivemos as inscrições abertas durante 8 ou 9 dias. As pessoas inscreveram-se e depois enviaram um vídeo com os trabalhos. Isto permite que todas as áreas possam participar, não só a música. A iniciativa dá, portanto, acesso aos artistas do cinema, da dança, do teatro, da literatura. A partir daí, foi criada a programação. Fizemos uma programação até meados de julho, pois tivemos mais inscrições do que aquilo que tínhamos inicialmente previsto. Fizemos o upload dos vídeos, que já podem  ser vistos na app. Quando começámos o projeto apenas era possível ver na plataforma RHI e nas redes sociais. Agora já é possível ver na app diretamente e é na app que as pessoas podem pagar. Ou seja, vejam o espetáculo onde virem podem sempre paga-lo nessa aplicação gratuita, que fizemos em parceria com a Polarising. Este ano adaptámos a app para que pudesse ser feito o pagamento dos espetáculos, sem ser em espetáculos ao vivo.

Em maio, a aplicação já estava preparada para receber vídeos. As pessoas podem pagar o que elas quiserem, as vezes que quiserem, pelo trabalho dos artistas cujos espetáculos estão a ver online. No fundo, é um video on demand sem ter um preço estabelecido, uma vez que achamos que toda a sociedade está a sofrer com os efeitos da pandemia. No futuro será esse o caminho, se continuarmos por esta via.

Qual a importância desta iniciativa para os artistas?

No fundo, é dar-lhes uma ferramenta, ou seja, uma estrutura que permita que o público lhes possa pagar. Muitos eventos estavam a acontecer no Facebook e Instagram e os artistas não tinham como receber o dinheiro. Mesmo que o público lhes quisesse pagar, não podia valorizar o trabalho dos artistas. Com esta app, as pessoas podem pagar e os artistas, se quiserem, podem continuar a fazer outros espetáculos diferentes daqueles que temos na nossa plataforma, canalizando para a app todos e quaisquer pagamentos de qualquer performance que façam nas redes sociais. Nós depois devolvemos o dinheiro pago na íntegra, não ficamos com comissão nenhuma.

Para além disso, através desta iniciativa, os artistas continuam tendo assunto para alimentar as redes sociais, que neste momento é o dos poucos veículos que têm para manter contacto com os fãs. É também uma forma de mostrar a importância de pagar aos artistas e dos problemas que a classe artística sofre neste momento.

Qual o impacto cultural que a situação criada pela pandemia tem vindo a trazer para a nossa sociedade?

Eu acho que o mais importante e aquele que mais se deve valorizar é que teria sido muito mais difícil de encararmos toda esta situação sem termos um livro, um filme, um concerto. Portanto, todas estas manifestações artísticas vieram, no fundo, mostrar a importância das Artes, que muitas vezes vem sendo posta em causa. Esta deve ser a grande mensagem da classe artística. Ser artista é mesmo uma profissão, ser músico, ser escritor, ser bailarino. Se havia dúvidas quanto à importância das Artes e da Cultura no mundo e dava-se como garantido o acesso a um livro, a uma música, hoje já não há. E essa é a maior mensagem que a classe artística pode passar, fazendo o público olhar para as Artes de maneira como, provavelmente, nunca olhou porque sempre as tomou como garantidas. Neste momento, se não houvesse essa possibilidade teria sido tudo muito mais difícil e até acho que a nossa sanidade mental ter-se-ia esgotado muito mais rapidamente. Acho que se lhe for explicado, o público começa a compreender melhor essa perspetiva e começa a olhar para os artistas de uma outra maneira.

Qual a mensagem de superação que quer deixar a todos os artistas, das diferentes áreas, que se tentam adaptar a esta nova realidade?

A mensagem que quero deixar, por ser algo em que eu acredito e acho que esta situação só veio pôr a nu esta necessidade urgente, é encontrar outras maneiras de financiamento. Olhar para o nosso mundo à volta e desenvolver uma capacidade de nos adaptarmos. Portanto, a minha mensagem para a classe é: deixem de depender única e exclusivamente dos fundos. Não digo que acabem com os fundos, têm obviamente que haver. Não é isso que está em causa, o que deve estar em causa é a aptidão dos artistas de poderem ter outros recursos para fazerem face a situações de financiamento. Virem-se mais para empresas, encontrem outros caminhos. Como classe temos que aprender a olhar e a ver novos recursos. Com a necessidade, virámo-nos para a internet e, se calhar, há outras maneiras. (…). E o que eu sinto é que a classe está ainda muito agarrada aos fundos e olha muito pouco para outras oportunidades, como outros setores estão a fazer. A altura não é a melhor, mas a minha mensagem é: vamos recomeçar, vamos fazer melhor, com uma estratégia que seja mais pensada a médio e longo prazo, para que isso dê um novo sustento à cultura.

Imagem de Destaque cedida por Ana Ventura Miranda

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Created By: Anna Luisa Abrantes Marotti Cardoso
Published: 08-09-2020 7:33

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