A partida para o meu destino era eminente e eu não pensava noutra coisa que não arranha-céus de dimensões monstruosas, acompanhados por ecrãs gigantes e caracteres que eu não iria compreender. Que ânsia de partir para o lado oposto do globo nesta aventura épica!.

Lembro-me dos primeiros pensamentos quando pisei o solo de Shanghai: vou-me perder completamente nesta cidade. Não estava enganado, aconteceu-me várias vezes. O fiel companheiro de viagens “Google Maps” deixou de funcionar, assim como outras tantas apps que estão bloqueadas na China, o que me levou a depender mais de mim e da minha orientação espacial. Senti a minha vida a começar de novo. Conta no banco, telemóvel, casa e amigos foram algumas das aquisições que esta nova fase me trouxe.

Um mês depois da chegada sentia-me preparado e motivado para encarar os desafios deste lugar que não pára. Já tinha um plano estruturado com os objetivos da empresa, mas cabia-me a mim encontrar a melhor maneira de os alcançar. O desafio era promover e vender o vinho Português, entre outros produtos, no mercado Chinês.

Parti para a ação, fui pragmático e comecei a estudar o funcionamento da cidade para perceber também como alcançar os seus consumidores. Estes vivem com os olhos nos seus telemóveis como se toda a beleza do mundo estive toda concentrada num pequeno ecrã. Surreal a falta de comunicação entre as pessoas no metro, nos restaurantes ou até mesmo na rua. A questão que se impôs foi: como vou alcançar pessoas que não querem ser alcançadas?

Os hotéis, restaurantes e bares onde trabalhavam chineses revelaram-se impenetráveis. Para além da barreira linguística, a falta de à vontade para interagir com um vendedor desconhecido era evidente. Os estabelecimentos onde trabalhavam estrangeiros também eram vítimas desta cultura de desconfiança e o efeito era idêntico. Ouvi muitos “nãos” durante estes meses que acabaram por desenvolver uma importante “soft skill” em mim, a resiliência.

Foi necessária uma mudança de estratégia e comecei a trabalhar com parceiros chineses capazes de alcançar as pessoas de uma forma mais eficaz, utilizando o e-commerce. Felizmente tenho tido a oportunidade de fortalecer conhecimentos neste campo que considero serem muitos proveitosos para o futuro.

Uma das mais prestigiadas feiras na Ásia, em Hong Kong, onde tive a oportunidade de representar várias marcas de produtos portugueses. Foto cedida por Gonçalo Marques

Ao contrário da cultura Portuguesa, na China as pessoas fazem as suas compras através de cliques no seu telemóvel. Uma caixa de ovos ou uma bicicleta chegam em tempo recorde e nas devidas condições às respetivas casas. Nesta realidade em que tudo acontece a uma velocidade tão elevada, poucos são os que perdem tempo em deslocações ao supermercado.

Quando me perguntam como é viver me Shanghai, eu respondo: É como viver no futuro! Sinto que esta experiência tem sido muito enriquecedora no sentido de me elucidar sobre o quão rápido o mundo está a evoluir e como se tem de adaptar. Uma cidade capaz de suportar 25 milhões de pessoas tem de ter infraestruturas e processos incrivelmente eficientes. Tem sido um luxo poder vê-los de perto e vivê-los de perto. Levo comigo esta experiência e espero conseguir extrapolá-la no meu futuro profissional.

Breve visita a Pequim e à sua incrível história. Na foto aprecio a grandeza do "templo dos céus". Foto cedida por Gonçalo Marques

Imagem de destaque: cedida por Gonçalo Marques