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Haverá limite ético no desenvolvimento e implementação de órgãos artificiais?

Mafalda Duarte-Silva | C23 | INOVA+ SA | Heidelberg, Alemanha

Corações, pâncreas ou rins artificiais são conceitos que começamos a ouvir no nosso dia a dia diversas vezes. Órgãos “manufaturados”, que poderão um dia substituir os nossos órgãos e, assim, curar-nos de doenças que ainda nos assombram. Substituir um pulmão em falência, sem ter de esperar por um dador, seria o ideal. Não estamos muito longe de um mundo onde isso será possível. Na verdade, com a evolução na investigação parecemos estar a dar baby steps para chegar à imortalidade humana. Ainda assim, será mesmo esse o objetivo? Descobrir a fórmula da sobrevivência eterna? Não teremos já ultrapassado limites que nos fazem acreditar que não temos de enfrentar a morte?

Consideremos a situação hipotética, daqui a 200 anos:

Pessoa I: 99% do cérebro considerado morto, vive ligado a máquinas. Podemos desligar as máquinas, não vai sobreviver sem elas;

Pessoa II: Diagnosticada uma doença degenerativa. Já sujeita a 4 transplantes de órgãos artificiais.

O primeiro depende de uma máquina para sobreviver e o segundo? É ou não considerado máquina?

Diariamente, são realizadas dezenas de cirurgias de implementação de stents, de desfibrilhadores, pacemakers ou válvulas cardíacas. Curiosamente, as últimas, quando são metálicas, fazem um barulho semelhante aos discmans antigos. Se por um lado pode incomodar ouvir um “tsts” a cada bombada do coração, este som indica que o doente está vivo, e que o seu coração está a funcionar. A válvula mecânica, acompanhada com o seu "barulhinho" constante, não torna estes doentes “um bocadinho” máquinas?

Aos doentes surdos, são por vezes implementados aparelhos eletrónicos que lhes permitem ouvir melhor. Melhoram a sua vida, e permitem que estes oiçam e percebam o que se passa ao seu redor. Ainda assim… Não serão estes doentes “um bocadinho” máquinas”?

Numa reportagem que visualizei há uns anos, um engenheiro especialista, mostrava como cada vez mais o Homem recorre a sensores regularmente. Mostrava também como daqui a uns anos, teremos chips implantados nos nossos corpos que, por exemplo, nos abrirão portas ou serão os nossos bilhetes de identidade. Resumidamente, alertava para como o Homem caminha para ser um robô.

Recordemos o filme Inteligência Artificial. A “criança robô” que no desenrolar do filme acaba por desenvolver sentimentos através da inteligência artificial, tenta pertencer ao mundo humano. Não a deixam, porque é uma máquina. Apesar de ficção, na vida real, aconteceria o mesmo, provavelmente. Seguindo esta linha de pensamento, os robôs não são humanos, são máquinas… E então queremos nós tornar-nos em máquinas?

É desesperante quando pensamos que milhares de pessoas morrem esperando por um transplante. Há doenças que, sem transplante, não têm solução. Dessa forma, vários grupos de investigação têm tentando corrigir este problema. A investigação na área da criação de órgãos bio artificiais tem sido levada a cabo, para que doentes terminais tenham a hipótese de receber órgãos artificiais, sem esperar meses, a ponto de não existir solução.

Onde entra a dúvida existencial é: solucionar o problema de um doente, num dos seus órgãos, parece razoável. E se for necessário transplantar 3 ou 4 órgãos no mesmo doente? É levar ao cenário extremo, sem dúvida. Mas se não levarmos os cenários ao extremo, não nos debateremos acerca dos limites éticos das ações que levamos a cabo.

Encontro muitas dúvidas quanto aos limites do desenvolvimento e implementação de estruturas artificias em seres humanos. Na realidade, pergunto-me se os limites não foram já ultrapassados. Quando podemos considerar que uma pessoa depende de uma máquina para sobreviver? Quando tem um implante eletrónico para ouvir melhor, quando tem órgãos bio artificiais implantados no seu corpo, ou apenas quando está efetivamente ligada a máquinas numa cama de hospital?

Dificilmente conseguiremos definir este limite. E uma vez que as opiniões divergem de pessoa para pessoa, surge a dificuldade de definir um limite aceite mundialmente. No entanto, reforço a necessidade de pensarmos e repensarmos sobre este tema, para que a sociedade não flua no sentido de tentar fintar a morte, em vez de aproveitar a vida que lhe foi dada.

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Created By: Mafalda Mantero Morais Duarte Silva
Published: 24-08-2019 18:19

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