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Desafios da Investigação Científica: Cooperação dos Setores Público e Privado

Bárbara Barbosa & Rita Reis | C22 | King's College London | Londres, Reino Unido

A nossa experiência INOV está a decorrer no King’s College London (KCL), no Reino Unido, em Investigação Científica nas áreas de Imunobiologia e Doenças Infecciosas. Embora em departamentos diferentes, estamos ambas a trabalhar no Guy’s Hospital que pertence ao Serviço Nacional de Saúde Britânico (NHS – National Health Service).

Na área de Imunobiologia estamos a estudar doenças inflamatórias do intestino para, num futuro, encontrar terapêuticas para estas doenças, que são de momento quase inexistentes ou não são eficazes. Para este estudo utilizamos animais modelo, i.e., ratos, de acordo com as regulamentações do Animal Wealfare Act criado pelo governo do Reino Unido em 2006 de forma a não causar qualquer sofrimento animal durante o processo. Também utilizamos amostras de pacientes, para as quais existe também uma regulação criada pelo governo para o manuseamento e tratamento destas, com a prévia autorização do dador.

No enquadramento do grupo de trabalho inserido no departamento de doenças infecciosas, desenvolvemos investigação sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV), estudando os mecanismos envolvidos na infecção e replicação deste vírus, utilizando como modelo linhas celulares adequadas.

>A indústria das ciências da vida é um sector diverso e grande no Reino Unido. Segundo um relatório da British Society of Immunology, de 2017 [1], existem no Reino Unido cerca de 5000 empresas na área da farmacêutica, da biotecnologia e da tecnologia médica. Esta indústria é das que mais investe em investigação e desenvolvimento (R&D], com cerca de 4.2 biliões de libras em 2015. Por exemplo, os 5 maiores investidores em R&D no Reino Unido investem principalmente (56%) em fármacos para o tratamento de doenças do sistema imunitário, diabetes tipo I e doenças infecciosas, estudos estes que têm sido aplicados noutras áreas como oncologia e demência.

A colaboração entre a academia e a indústria ainda é pequena e quando ocorre o processo é complexo. O sigilo presente na indústria dificulta muitas vezes a comunicação com os profissionais do sector público, i.e., investigadores e profissionais de saúde. Patentes, transferência de tecnologia e de intelecto dificultam muitas vezes as cooperações.

Contudo, a investigação translacional tem sido uma área de crescimento desde a publicação, pelo Departamento de Saúde do Reino Unido, do “Best research for best health” em 2006 que define os objectivos desta investigação. O governo britânico reconheceu que a excelência da investigação tem um papel importante no crescimento económico, sendo que cerca de um terço dos grupos financiados pelo Medical Research Council (MRC) estabeleceram colaborações com o sector privado, criando novos negócios e atraindo financiamento directo de mais de 500 empresas mundiais com representação no Reino Unido. Entre 2014 e 2015, mais de 5400 projectos foram apoiados, 5585 artigos publicados e 844 milhões de libras obtidas em financiamento externo [2].

Actualmente uma das principais estratégias é a formação de colaborações entre a academia, a medicina clínica e a indústria. O MRC é um dos principais apoiantes da colaboração entre o sector público e privado, tendo para isso criado o industry collaboration agreement, onde promove parcerias com mais de 500 empresas. Outro exemplo de incentivo a colaborações foi a criação da Catapult, uma rede de centros com o objectivo de produzir novos produtos e serviços de medicina.

Um exemplo de sucesso de colaborações entre a academia e o sector privado é o Projecto dos 100.000 Genomas em parceria com a empresa americana Illumina, que envolveu a sequenciação do genoma de pacientes do NHS [2]. Também existem cooperações entre Biogen, EMBL-EBI, GSK e o Wellcome Trust Sanger Institute para identificar potenciais novos fármacos [1].

Representação gráfica das redes de cooperação entre o sector público e privado no Reino Unido. Retirado de: Elsevier and UK’s Department for Business, Energy and Industrial Strategy; International Comparative Performance of the UK research base 2016; pg.113; 2017

Representação gráfica das redes de cooperação entre o sector público e privado no Reino Unido. Retirado de: Elsevier and UK’s Department for Business, Energy and Industrial Strategy; International Comparative Performance of the UK research base 2016; pg.113; 2017

De acordo com os dados financeiros relativos a 2016-2017, dos fundos que o KCL obteve, 25% provêm do retorno da investigação, 16% do governo e cerca de 1% de bolsas de investigação. Nesse mesmo ano, gastou cerca de 163 milhões de libras em bolsas de investigação e em contractos científicos. No entanto ainda existem cerca de 24 milhões de libras para investir, das quais 17% serão em investigação [3].

A investigação no KCL é financiada através de vários órgãos, entre os quais Research Councils, entre as quais a MCR, que já financiou os projectos de 29 laureados com o Prémio Nobel, British Academy e a Royal Society, mas também organizações de caridade, organizações governamentais, quer dentro do Reino Unido como internacionais [4].

De destacar, no caso dos departamentos em que estamos inseridas, o financiamento generoso do Wellcome Trust. Este fundo permite uma série de ações que não só fomenta o desenvolvimento da investigação (apoio a investigações translacionais pioneiras, atribuição de bolsas de fellowship que fomentam o recrutamento de investigadores em início de carreira, etc.), mas também apoiando o staff, por exemplo, em licenças de maternidade/paternidade [5]. Também existe um outro tipo de oportunidade de financiamento, King's Health Partners Research and Development Challenge Fund, que permite aos investigadores desenvolverem trabalho suficiente para se candidatarem a bolsas mais avultadas de entidades reconhecidas como a Wellcome Trust e a Medical Research Council [6].

Gráfico Ilustrativo das origens do financiamento das bolsas e contractos de trabalho de investigação no King's College London. Retirado de: King’s College London; Financial Statement for the year to 31 July 2017; página 9; 2018

Gráfico Ilustrativo das origens do financiamento das bolsas e contractos de trabalho de investigação no King's College London. Retirado de: King’s College London; Financial Statement for the year to 31 July 2017; página 9; 2018

De acordo com a nossa actual experiência podemos constatar a presença de alguns elementos que evidenciam a parceria do sector privado com o KCL, como por exemplo, a presença de um poster que reitera o suporte à investigação numa das instalações do departamento de doenças infecciosas pela Diabetes UK. Também verificamos que em ambos os departamentos praticamente todos os projectos a decorrer, incluído de doutoramento e contratos, são financiados por entidades externas à universidade.

De qualquer forma, o nosso trabalho como estagiárias não nos permite entender se os financiamentos recebidos pelos grupos de investigação são adequados às necessidades dos mesmos, bem como se as políticas governamentais são suficientes para promover uma investigação de qualidade e de topo no Reino Unido.

Talvez num futuro próximo, tenhamos um maior conhecimento desta realidade quando estivermos encarregues do nosso próprio projecto e quem sabe quando formos líderes do nosso próprio grupo!

Referências:

>[1] British Society Immunology; Immunology and the UK’s life sciences industry; Maio de 2017

[2] Nelomi Anandagoda e Graham M. Lord; Boosting translational research in the U.K.; Science Translational Medicine, volume 8; 21 de Setembro de 2016

[3] King’s College London; Financial Statement for the year to 31 July 2017; 2018 disponível em www.kcl.ac.uk.

[4]https://internal.kcl.ac.uk/innovation/research/funding/Funding-Opportunities/Index-of-Funders.aspx.

[5] https://www.kcl.ac.uk/lsm/research/wellcome-trust-iss-fund.aspx.

[6] https://www.kingshealthpartners.org/research/funding-opportunities.

Created By: Rita Antunes dos Reis
Published: 11-01-2019 11:40

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