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Formas de habitar dos millennials

Francisco Alves | C22 | Alex D Architects | High Wycombe, UK

Millennials foi o termo escolhido, em 1991, pelos norte-americanos William Strauss e Neil Howe, para designar a geração de indivíduos nascidos entre 1980 e 2000. Atualmente com idades compreendidas entre os 18 e os 38 anos, são caracterizados como a primeira geração de “nativos” digitais, dispondo de fontes de informação e ferramentas desconhecidas das gerações anteriores.

A geração dos millennials também apelidada de geração Y constitui um vasto grupo demográfico com necessidades muito específicas e criteriosas. Por conseguinte, importa perceber o que procuram estes indivíduos quando lhes surge a necessidade de escolher uma habitação, a fim de encontrarmos estratégias adaptadas às suas exigências no âmbito do mercado imobiliário.

Tal como a geração X, dos seus pais e os baby boomers, seus avós, os millennials também aspiram por casas seguras, bem equipadas e cuja localização promova a acessibilidade e a qualidade de vida.

Todavia, a mudança de paradigmas criou uma geração de consumidores com um perfil distinto das gerações anteriores, que assume valores mais focados na experiência e menos no lado material. A esta alteração de comportamentos não é alheia a crise económica à escala global, nem a desadequação entre uma formação altamente qualificada e o mercado de trabalho.

Com expetativas salariais baixas e perante a precariedade laboral, os millennials não contam com um emprego “para a vida”. A vivência da instabilidade financeira, o colapso dos grandes bancos e, em muitos casos, o facto de terem assistido à degradação progressiva das condições de vida dos seus familiares, a braços com situações de desemprego e endividamento, confronta-os com uma maior consciência que obriga a uma racionalidade acrescida.

Face às novas realidades os jovens millennials tendem para a gestão regrada das poupanças direcionando as suas opções para escolhas onde a versatilidade e a sustentabilidade ocupam lugares chave.

Se é verdade que na sua grande maioria os indivíduos pertencentes a esta geração vivenciaram uma evolução tecnológica sem precedentes, que lhes integra o quotidiano e influencia inelutavelmente as suas escolhas pessoais e profissionais, também é evidente que os millennials nascidos por volta dos anos 80 viveram vidas substancialmente diferentes dos millennials que nasceram nos anos 90, o que naturalmente determina os critérios que lhes norteiam as escolhas.

Millennials mais jovens, que concluíram a sua formação académica, conseguiram o primeiro emprego e pretendem sair da casa de morada da família, escolhem casa na perspetiva da mobilidade e tendem a valorizar e optar por espaços arrendados que podem partilhar, ao invés de adquirir casa e assumir contratos prolongados com instituições bancárias.

Inúmeros estudos que se debruçam sobre esta matéria apontam também a tendência para a escolha de espaços mais reduzidos, porém de grande flexibilidade, que proporcionem condições adaptadas ao trabalho e ao lazer.

O aumento significativo das profissões que permitem trabalhar remotamente, por via do recurso a computadores e internet, fez com que um número crescente de potenciais clientes considere o investimento num espaço versátil e adaptado para o efeito. É, portanto, fundamental optimizar as possibilidades de realização das mais diversas atividades, em home office, sem prejuízo do conforto que um lar deve proporcionar.

Procuram conciliar uma série de fatores que lhes facultem maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, pelo que preferem locais que sejam centrais em relação às suas vidas. O mesmo é dizer que valorizam as acessibilidades aos transportes públicos, o comércio circundante e a proximidade de infra-estruturas de desporto e lazer.

No que respeita aos indivíduos que, pertencendo à mesma geração, têm uma idade mais avançada, com maiores probabilidades de vidas profissionais mais estáveis e possivelmente com família constituída, as escolhas alteram-se. Por conseguinte, ponderando investir na compra de habitação elegem na sua procura as casas novas ou remodeladas e a precisar de poucas obras.

Estas circunstâncias constituem um desafio para os construtores, ou agentes, pois implica que se comprometam com orçamentos cuja avaliação é bastante pessoal e variada.

A fim de reduzir o risco de estimativas arbitrárias e acautelar a confiança dos investidores, devem ser tidas em consideração algumas preferências dos jovens interessados.

Enquanto as gerações anteriores preferiam separar a zona de estar/jantar, da cozinha, para estabelecer uma distinção clara entre o espaço de confeção e de convívio, os millennials preferem que estes espaços sejam partilhados por toda a família. Afinal, a partilha é a qualidade que marca e caracteriza os millennials...

Portanto, casas com plantas abertas e poucas divisões são ideais. Com efeito, no Reino Unido, vários residentes têm alterado as suas casas, refletindo esta tendência, alargando a área traseira das habitações de forma a integrar salas e espaços de refeição com vistas panorâmicas sobre o jardim.

O contacto com o jardim é uma opção cada vez mais privilegiada. Como demonstram os vários os estudos realizados sobre os efeitos da natureza na qualidade de vida dos seres humanos, a presença de vegetação, árvores, rios e lagos é indispensável para a promoção da saúde e do bem-estar. Espaços urbanos que incluam versões aproximadas destes elementos são logicamente preferidos.

A complexidade e surpresa dos elementos naturais tende a ser tão apreciada como as especificidades arquitetónicas diferenciadoras e exclusivas que, todavia, devem ser conjugadas com a devida sobriedade, a fim de criar ambientes integradores e sustentáveis. Conforme já dissemos, existem diferenças em vários aspetos nas escolhas dos mais e dos menos jovens indivíduos integrados na geração dos millennials.

Tendo em comum a preferência por espaços de convivência com a mãe natureza ponderarão, por exemplo, quem assegura a manutenção dos jardins, nos casos de habitações partilhadas onde os tempos de permanência dos residentes tendencialmente são inconstantes.

O veículo pessoal usado, nas anteriores gerações, como o principal meio de locomoção que permitia percorrer distâncias consideráveis entre os seus locais de residência e os locais de trabalho, passa a ser visto, pelos millennials, como um privilégio, perante os aumentos dos preços dos combustíveis, a falta de lugares de estacionamento, os constantes engarrafamentos e outras circunstâncias muitas vezes imponderáveis.

Desta feita, a questão da localização das habitações surge como uma prioridade, passando a ser valorizada a acessibilidade aos transportes públicos ou a deslocação pedonal rápida e segura.

Se por um lado estas necessidades, numa fase inicial, implicam a proximidade de centros urbanos, por outro, quando estes jovens adultos têm crianças preferem residir em zonas habitadas por comunidades mais vocacionadas para o convívio familiar.

Efetivamente, pesem embora as naturais características que diferenciam os mais ou menos jovens millennials é indubitável que esta é uma geração sem precedentes no que respeita ao domínio da tecnologia.

Num espaço de tempo reduzidíssimo, se atendermos ao que a história nos ensina, a tecnologia passou de um bem ficcionado para um bem essencial.

Nas gerações que os antecederam, o desenvolvimento tecnológico das habitações resumia-se praticamente ao uso da rede telefónica, rádio e televisão.

Se a vida como hoje a conhecemos já não se concebe sem, no mínimo, um bom serviço de internet wireless em todas as divisões, os millennials começam a alimentar a expetativa de que as suas casas sejam verdadeiramente inteligentes, integrando funcionalidades convenientes, como sejam, por exemplo, a regularização automática dos níveis de luz e temperatura, notificações para reposição de alimentos, manutenção de sistemas de rega, comunicação direta com aplicações móveis, fecho automático de portas ou ativação remota de centros de entretenimento. Esta tendência irá aumentar durante os próximos anos.

A expetativa é que, no futuro, as casas saibam quando entramos ou saímos de uma divisão, que nos oiçam e respondam verbalmente sempre que temos uma dúvida, que interajam com os nossos sentidos e saibam quando precisamos de cuidados médicos ou que interpretem ações subtis como gestos e expressões, por exemplo.

Quando estas tecnologias começarem a integrar o mundo físico, encontrando o seu lugar nas paredes das nossas casas, ou mesmo nos nossos corpos, tornar-se-ão invisíveis e, assim como hoje temos eletricidade e internet, no futuro será a própria habitação que nos proporcionará o usufruto de comodidades e a personalização do espaço em que vivemos, com um incontornável impacto na forma como habitamos.

Para preparar este futuro que se aproxima a passos largos é, no entanto, necessário criar pontes entre as disciplinas de arquitetura, sociologia, computação e saúde, para que os arquitetos sejam capazes de integrar as tecnologias nos projetos e resolver os problemas que prejudicam o desenvolvimento deste conceito.

Em suma, estamos em crer que o acesso à primeira habitação, seja por via do aluguer ou da aquisição, pode ser uma decisão mais ou menos intimidante para qualquer jovem.

Se, por um lado, os millennials são consumidores mais exigentes e informados, que vivem em permanente conexão e partilha de conhecimentos, por outro não deixa de ser paradoxal que a geração mais educada da história da humanidade detenha ainda um reduzido poder de compra, fruto da insegurança no emprego que condiciona o investimento em opções de longo prazo.

No Reino Unido estão disponíveis vários programas que visam incentivar a compra, criando um mercado mais vibrante e apelativo. Damos como exemplos:

  • Help to Buy – Disponível para os candidatos elegíveis que desejem comprar habitação a erguer, nova, cujo valor não seja superior a £600,000. Neste incentivo o estado empresta 20% do valor da habitação, livre de taxas, durante os primeiros cinco anos e exige apenas que o interessado adiante 5% do valor. Se a mesma se localizar em Londres, o financiamento ascende a 40%. Este apoio está disponível até 2021.

  • Right to Buy – Este é um esquema para os arrendatários em Inglaterra e País de Gales, cuja renda seja paga ao município há pelo menos três anos. Permite que os inquilinos se qualifiquem para comprar a casa com desconto. O valor do desconto varia consoante o local e do tipo de propriedade a comprar.

  • Shared ownership – Nesta modalidade apenas se compra uma parcela da casa, normalmente ao senhorio, e arrenda-se a restante parcela. É necessário constituir uma hipoteca, que pode variar entre um a três quartos do valor total da propriedade. Deste modo, a renda é reduzida e estabelece-se um investimento com possibilidade de comprar a casa mais tarde. Qualquer pessoa ou agregado com um rendimento inferior a £90,000 em Londres ou £80,000 nos arredores, pode comprar uma casa deste modo. O tipo de propriedade elegível e as percentagens de parcela disponível variam com o local.

  • Starter Home Scheme – Mais recente, este programa lista 200,000 habitações novas, disponíveis para quem compra pela primeira vez, com idade inferior a 40 anos e 20% abaixo do valor de mercado. Os valores a descontar não podem ser superiores a £450,000 em Londres ou £250,000 nos arredores.

Assim, a compra de casa passa a constituir uma oportunidade de investimento para os jovens compradores, tornando a primeira aquisição favorável para os interessados, fornecendo-lhes várias opções e modalidades.

Noutros mercados, como o Português, as opções são mais vocacionadas para o arrendamento do que para a compra, devido a opções mais limitadas, designadamente, no que respeita à redução de spreads e condições de financiamento, para este sector de mercado.

Em Portugal, merece destaque o programa Porta 65 como um dos mecanismos de apoio ao arrendamento, senão o único, que visa incentivar candidatos com idades compreendidas entre os 18 e 35 anos por via de financiamento de 50 a 70% do valor da renda, dependendo dos rendimentos e do agregado familiar.

Concluindo:

As necessidades habitacionais em constante mutação apresentam-se aos arquitetos como um permanente desafio. É vital projectar ambientes que mudem rapidamente de cena, criando estratégias de inovação, flexibilidade e visão futurista.

Sendo certo que a evolução tecnológica fornece aos jovens arquitectos ferramentas de trabalho indisponíveis para as gerações que os antecederam, no nosso entender, somente a sinergia com os conhecimentos vastos e a experiência acumulada pelos seus ascendentes permitirá concretizar soluções eficientes e eficazes.

Created By: Francisco Miguel Caeiro Alves
Published: 28-03-2019 17:29

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