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Kreuzberg, Berlim e o 1º de Maio

Ana Roque | C13 | Active Space Technologies GmbH | Berlim, Alemanha

Quando cheguei a Berlim, em finais de Janeiro, a cidade parecia um pouco adormecida. O clima era frio, o céu estava permanentemente coberto por uma cúpula cinzenta, e as pessoas pareciam sempre com pressa de chegar aos seus destinos. Com a chegada da primavera, a mudança foi radical. Berlim torna-se então uma cidade cheia de actividade. As pessoas saem à rua para passear com amigos e descontrair ao longo do rio e dos canais, vêm-se churrascos nos parques, e por toda a parte se organizam concertos e festas. Dada a riqueza do passado histórico recente da cidade e a grande diversidade da população, Berlim é palco de muitas expressões de liberdade e criatividade, não raras vezes com um conteúdo político forte. Um importante exemplo é as manifestações e comemorações do 1º de Maio em Kreuzberg, a que assisti.

Os tradicionais motins do 1º de Maio degeneraram em violência em 1987, em virtude de um clima de grande tensão entre grupos de esquerda de Berlim oeste e oficiais da cidade. Uma incursão policial sobre um grupo que se manifestava contra um recenseamento nacional deu inicio a vários confrontos que escalaram em violência e que duraram ate à madrugada do dia 2 de Maio. Desde esse 1º de Maio que todos os anos, nesse dia, se repetiam notícias de violência em manifestações nesta zona da cidade. Embora alguns anos tenham sido piores do que outros, a opinião generalizada dos residentes é a de que as motivações políticas destas manifestações se foram esbatendo, e que a partir de certa altura se tornaram principalmente numa desculpa para atirar pedras à polícia, destruir montras de lojas e incendiar carros.

A primeira resposta das autoridades foi o aumento da força policial, mas quando o objectivo é apenas criar caos e libertar violência gratuita, nem sempre esta é a melhor solução.

Ao fim de algum tempo, porém, surgiu uma abordagem inesperada e original a este problema, que acabou por revelar-se extremamente eficaz. O governo da cidade de Berlim começou a financiar anualmente em Kreuzberg no dia 1 de Maio, a par das manifestações, o Myfest, um festival de rua com concertos gratuitos em vários palcos. Isto possibilitou não só a atracção de outro tipo de participantes, sem intenções violentas, mas também uma maneira mais positiva e criativa de expressar preocupações políticas.

Este ano assisti em vários palcos, a concertos de hiphop, techno, metal, hardcore, música russa e cigana, entre muitos outros. A natureza pacífica do actual 1º de Maio em Kreuzberg propicia também o envolvimento espontâneo da população e uma oportunidade de negócio. Vi bastante gente (incluindo famílias) a vender comida e bebida na rua, assim como festas paralelas em casas ocupadas da zona, de entrada livre. Apesar de continuar a haver manifestações e um intenso policiamento da zona, os episódios de violência são agora mais facilmente controlados.

A história do 1º de Maio em Kreuzberg acabou por se revelar um bom exemplo de como lidar de forma inteligente e criativa, com um grave problema social.

Created By: ANA ISABEL LOURENÇO ROQUE
Published: 24-01-2010 8:05

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