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Ser madrileña da minha janela
Bárbara Lopes | C24 | Turismo de Portugal | Madrid, Espanha
 

Ser Madrileña da minha janela

Eram 9.45h no dia 26 de fevereiro quando o avião aterrou em Madrid e tive a certeza de que já não havia volta a dar, estava a embarcar numa experiência de seis meses num país estrangeiro. Milhões de pensamentos corriam na minha cabeça, como será o ambiente de trabalho? Vou-me adaptar à cidade? Com quem vou viver? Estava stressada e, ao mesmo tempo, muito ansiosa, queria visitar o Retiro, a Porta do Sol e ver um jogo no estádio Santiago Bernabéu. Infelizmente, o único pensamento que não me passou pela cabeça, foi o de que uma semana depois de chegar, iria ficar três meses confinada em casa.

No primeiro mês, a ideia do confinamento não pareceu assim tão má, era como os reality shows que estamos habituados a ver na televisão. Uma casa nova, pessoas diferentes e não podemos sair da casa sem autorização. Comecei a fazer teletrabalho todos os dias, a almoçar com as minhas colegas de casa, a dedicar-me a receitas culinárias e até as tarefas domésticas eram agradáveis. Sentava-me na varanda e, com o passar dos dias, já sabia alguma coisa sobre cada vizinho, a jovem que gosta de ler livros sentada na berma da janela, o pai do 6º andar que corre atrás dos filhos, um adepto fanático por desporto e a senhora com mais de 80 anos que vê televisão até à uma da manhã.

Março foi a experiência zero, tudo parecia novidade e o tempo passava rapidamente. Transformei o meu quarto numa sala de aeróbica, com aulas de zumba e exercício intercalado e alimentava-me de séries da Netflix. Aos fins de semana dedicávamo-nos a fazer bons jantares e festas temáticas para que esses dias fossem normais e, a partir da segunda semana, começámos a marcar presença nas janelas na maratona de palmas que percorre a cidade. Clap! Clap! É o som que ecoa às oito da noite na nossa rua desde então, em homenagem aos profissionais de saúde que se esforçam para que Madrid volte ao normal. São cinco minutos em que através de sorrisos e cumprimentos partilhamos o momento com pessoas que não conhecemos e nos unimos na esperança de que tudo vai ficar bem.

A partir do segundo mês toda esta conversa engraçada e compreensiva do tempo que passamos em casa muda e comecei a ficar ansiosa por  liberdade, poder voltar ao escritório e sair à rua sem ter de levar os meus novos melhores amigos: a máscara e o gel desinfetante. Sendo um ser social por natureza, tenho de admitir que os últimos meses não tem sido fáceis. Quando dou por ela, o ponto mais alto do meu dia é "qual o prato novo que irei cozinhar hoje?". Os dias passam a ser cansativos, não pelo exercício que faço entre a cozinha e o quarto, mas porque não há nada de novo.

Na TV só se fala na covid-19 e diariamente trabalho com notícias sobre o impacto da pandemia no turismo, por isso não há por onde escapar. As filas a que estou habituada a esperar para entrar num festival são hoje as mesmas para entrar num supermercado. Cá em casa não nos conhecemos a 100%, mas já sabemos muito sobre cada uma, por isso só queremos aproveitar o tempo juntas lá fora. E, como se não bastasse, ou a balança da farmácia está avariada, ou a quarentena quis que eu engordasse enquanto os ginásios estão fechados.

Felizmente, nas últimas semanas, Madrid começa a dar esperanças, já posso fazer caminhadas e as esplanadas abriram. Mesmo com restrições é uma lufada de ar fresco. Aproveito para conhecer bairros que estão repletos de música nas varandas e agora também fazemos o mesmo cá em casa. Além disso, o calor chegou e veio dar motivação para um típico convívio português, um sunset com um “fino” e uns tremoços. As pessoas andam mais animadas e penso que estamos todos ansiosos por passar à “nova normalidade”.

Quando me candidatei ao INOV Contacto, fi-lo porque queria ter uma experiência na minha área, no estrangeiro e conhecer uma nova cultura. Como tal, por muito que gostasse de rebobinar a cassete e recomeçar o estágio, só tenho de pensar que vou aproveitar os restantes meses ao máximo. A pandemia desacelerou todo o mundo, mas sem dúvida que acelerou o meu pensamento para o resto desta experiência.

Todo se vá a quedar bien.

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Created By: Bárbara dos Santos Lopes
Published: 27-08-2020 15:36

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