Olá. Eu sou o Nuno Várzea. Atualmente delegado da AICEP em Teerão, no Irão. Sou também C3, o que para vós fará de mim .... uma espécie de dinossauro. Algures no tempo fiz também parte da equipa de coordenação do programa contacto, salvo erro, nas edições C8 a C12.
Conheço bem as angústias dos estagiários na primeira e terceira pessoa. A oportunidade que o programa proporciona pode por vezes ser overwhelming.
De repente, ocorrem vários processos em simultâneo. Um processo de aculturação a um país diferente, um trabalho novo (que em muitos casos é o primeiro), a distância, fusos horários, ... Enfim. Muitos processos ao mesmo tempo.
Ainda para mais o momento actual do mundo acrescenta muita complexidade. Cada país de destino segue as suas medidas de prevenção e de mitigação do contágio que cada um deve respeitar.
Todas estas variáveis, conjugadas, fazem de cada um de vós um caso único, mas também exemplos de perseverança, resistência, adaptação e sucesso. São características que estão em desenvolvimento, postas à prova e que vos serão úteis em situações futuras.
Este ano de 2020 tem sido complicado no Irão. Num contexto de sanções norte americanas sobre o país que asfixiaram a economia face à incapacidade de outros países em cumprir a sua parte do acordo nuclear e contribuir para o desenvolvimento do Irão, o confronto directo foi ocorrendo noutros territórios mas a tensão vivida no país era, neste início de ano, muito elevada.
A este período sucedeu-se o assassinato do general Suleimani, um potencial futuro líder moderado e amado pelo povo. Esperava-se a escalada irracional de um conflito previsível com os EUA. A tensão era tanta que um avião comercial foi abatido momentos após a descolagem do aeroporto internacional de Teerão.
Estava em Portugal na altura em trabalho, voltando ao mercado pouco depois. Assumo que a viagem de regresso foi muito tensa. Todos os que viajaram naquele período de e para Teerão não o fizeram de ânimo leve.Pouco depois, e em cima deste cenário, a minha família, que me acompanha em Teerão, começou a ficar doente. É um vírus diziam os médicos.
Primeiro a minha filha, depois a mãe dela e de seguida o meu filho com oito anos, o caso mais complicado com internamento hospitalar em Teerão. É Pneumonia viral, dizia o médico visivelmente satisfeito. Nesta altura o país já estava assolado pelo novo vírus mas não era ainda de conhecimento público qual a verdadeira dimensão.
No dia em que felizmente teve alta, o facto de nunca ter sabido qual fora o vírus que havia provocado a pneumonia, não me deixava descansado, mas, nessa mesma altura, no país começou a saber-se que não havia apenas e só 30 infectados e 10 óbitos. O caso era sério e aparentemente descontrolado.
De um dia para o outro a situação ficou visível a todos. O vice-ministro da saúde transpirava e tossia em directo na TV, deputados, governadores, autarcas, médicos, enfermeiros não escaparam e a cada dia se conheciam mais casos.Naquele período, eu não podia ficar doente também. Disse-o a mim mesmo. Não podia.
Em rede, estive sempre em contacto com amigos a residir e trabalhar na China. Era como que ter acesso a uma realidade antecipada. Estes contactos, iam-me adiantando os procedimentos. Uma realidade que, por certo, todos vós agora também enfrentam. Máscara, luvas, desinfecção de tudo quanto entra em casa e no escritório, isolamento e o fim de todo e qualquer convívio social e profissional presencial.
Nuno Várzea 'equipado' contra o Covid 19
A mensagem que vos pretendo transmitir reside no facto de tudo ser dinâmico, a pandemia apenas veio deixar a nú esta caracteristica da vida, e ser fundamental cada um de vós encontrar dentro dessa dinâmica aspectos de valor acrescentado que não se alteram.
Acredito que se cada um de vós mantiver sempre presente qual é o vosso propósito, vão conseguir lidar com as adversidades da melhor maneira possível.
Não desistam! Concentrem-se no essencial, no vosso propósito, no que vos move.
Um abraço amigo.