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Vim para o Brasil fazer o que nunca imaginei, (re)aprender a falar português

Soraia Coimbra | C23 | Câmara do Comércio | São Paulo, Brasil

Soraia na costa de São Paulo

Quando me candidatei ao INOV Contacto, umas das coisas que deixei bem claras na entrevista foi o facto de querer ir para um país fora da Europa em que houvesse um grande choque cultural incluindo linguístico. Gosto de desafios, adoro aprender novas línguas e desde o início que encarei toda esta viagem como tal. No dia 22 de Fevereiro, quando anunciaram o meu destino, fiquei super feliz por ter sido colocada no Brasil. Pensei logo: “América do Sul, calor, aquelas praias incríveis, só pode correr bem!”.

Depois deste pico de adrenalina, o entusiasmo começou a descer. Comecei a racionalizar imenso, a pensar que não teria choque cultural nenhum, que iria falar português os 6 meses, que apesar de ser um país da América do Sul iria ser parecido com Portugal devido às influências na época dos Descobrimentos. Mal eu sabia o quão errada estava.

No início sentia-me muito frustrada. Eu falava com as pessoas, ia às lojas, cafés, restaurantes e ninguém me entendia. Sim, exatamente, ninguém me entendia. Cheguei ao ponto de apontar para o que queria de tão incompreendida que era. Respondiam-me em espanhol ou inglês, quando não me ignoravam. Mal abria a boca perguntavam-me: “Argentina?” Isto irritava-me tanto. “Como é que não me entendem se falamos a mesma língua?” pensava eu. O que me entristecia por pensar que não teria, acabou por ser um dos meus maiores desafios no Brasil, ser compreendida.

Cheguei à conclusão que para os paulistanos, é mais complicado entender-nos devido à sonoridade e abertura do nosso sotaque. Temos sempre de tentar fazer um sotaque meio abrasileirado e falar devagar para nos perceberem. O sotaque carioca é mais aberto, mais claro. Eles entendem-nos bem melhor, assim como nós os conseguimos perceber melhor também.

Depois de desvendado o enigma dos sotaques, veio o enigma das palavras e a variedade de coisas que eles dizem de forma diferente de nós. Chamam mixer à varinha mágica e camisola a um vestido de dormir. Passava os dias a referir-me a mulheres como raparigas quando me apercebi que aqui significa prostituta (eu estranhava a reação das pessoas). No supermercado perguntava por presunto e davam-me fiambre.

Esta história poderia ser sobre imensa coisa. Poderia falar da imensa disparidade económica e social que existe, poderia falar da simpatia e hospitalidade do brasileiro, poderia falar da variedade de climas que o país tem, da comida ou da ideia formatada que eles têm dos portugueses e das estranhas piadas que fazem sobre isso (o português está para o brasileiro assim como o alentejano está para o nortenho), mas decidi falar da barreira linguística, pois quando pensamos no Brasil acho que é algo que não associamos, mas que realmente existe. Vim para o Brasil fazer o que nunca imaginei, (re)aprender a falar português.

Imagem de destaque: Soraia na costa de São Paulo

Created By: Soraia Filipa Loureiro Coimbra de Sousa
Published: 10-03-2020 15:04

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