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Percepção dos vinhos portugueses no Reino Unido

Ana Isidoro | C23 | Madeira Wine Company | Londres, Reino Unido

Portugal é actualmente um importante player no mercado internacional de vinho, no entanto para a maioria da população britânica, incluindo até alguns especialistas da área, o vinho português é ainda território inexplorado. Para além dos vinhos fortificados do Porto e Madeira, da garrafa ocasional de vinho verde e de Mateus Rosé, os vinhos Portugueses têm uma pequena representação no UK fora das lojas da especialidade. Tão pequena que, em alguns locais, estes nem têm a sua própria secção, sendo muitas vezes encontrados nas categorias “Vinhos Portugal e Espanha” ou “Resto do mundo”.

Anthony Symington, 5ª geração dos Symington e brand manager no Reino Unido dos vinhos da família de que são exemplo Graham’s, Cockburn’s e Altano considera que apesar da crescente popularidade dos vinhos portugueses, estes mantêm-se ainda relativamente desconhecidos “Um dos desafios que enfrentamos relaciona-se com a educação dos consumidores visto que estes não entendem nem conhecem as variedades de uva nativas que usamos nos nossos vinhos, como por exemplo Touriga Nacional. O consumidor inglês prefere comprar vinhos dos quais conheça o tipo de uva utilizado” constata. No entanto, Anthony reconhece que dado que o consumidor moderno tende a ser mais aventureiro, arriscado e procurar por pontos de diferenciação, o facto de o vinho português utilizar tipos de uva nativos e que existem exclusivamente em Portugal “está cada vez mais a tornar-se um ponto forte”.

Outro problema que, na perspectiva de Anthony, o vinho português enfrenta é a percepção de preço. “Supermercados como o Aldi ou o Lidl têm vindo a condicionar o consumidor a crer que, por exemplo, deve pagar apenas 5-6£ por uma garrafa de Douro DOC. Isto representa um perigo real de destruir o mercado visto que a região do Douro é uma área extremamente difícil de cultivar. O Douro é actualmente a maior vinha montanhosa do mundo e todas as uvas são colhidas à mão, resultando em apenas 1kg de fruta por cada vinha, enquanto que noutros países é possível produzir mais de 4kg por vinha. Isto resulta num custo aproximado de produção de 70 cêntimos por kg de uva no Douro enquanto que, por exemplo no Chile ou na Austrália, eles conseguem fazê-lo por 20 cêntimos”. Assim, Anthony considera que, a longo prazo, não é sustentável tentar competir com vinhos destas regiões pois isto acabará inevitávelmente por desmoronar toda a indústria de vinho existente no Douro. ”O Governo Português precisa de ajudar reformulando o sistema de benefícios, que se encontra datado e a ameaçar a economia local. Enquanto isso, a indústria portuguesa de vinho em conjunto com o Governo devem tentar ao máximo promover a natureza premium dos vinhos portugueses, educando assim o consumidor e conseguindo consequentemente que Portugal tenha mais shelf space. Actualmente, por exemplo no Waitrose (supermercado inglês) há apenas 1 pequeno espaço para vinho português e é dentro da categoria “Rest of the World” enquanto que, por exemplo Espanha, tem a sua própria categoria que inclui mais de 15 vinhos”. De forma a reverter isto, Anthony acredita que Portugal deve tirar partido do boom turístico actual de modo a cativar o consumidor e, assim, continuar a conecção criada depois do regresso dos igleses ao Reino Unido. “De um modo geral, a situação dos vinhos portugueses no UK está a melhorar, no entanto é necessário reconhecer e resolver os problemas mencionados de modo a ter sucesso a longo prazo” conclui.

Richard Mayson é crítico, autor, consultor e especialista britânico em vinho fortificado, sendo também um entusiasta do vinho português. Algumas das suas publicações incluem livros como Portugal's Wines and Wine-Makers: Port, Madeira and Regional Wines (1992), The Wines and Vineyards of Portugal (2003) e Madeira, the Islands and their Wines (2015). Na sua opinião, apesar de Portugal ser um destino turístico popular, o lifestyle e a gastronomia portugueses não têm representação relevante no Reino Unido, o que restringe e influencia consequentemente a popularidade do vinho. “Por exemplo, associamos sempre Espanha a tapas, Itália a pizza, França a cozinha sofisticada” explica Richard. Assim, “em muitas cartas de vinhos nos restaurantes, Portugal normalmente é representado por um vinho apenas, e geralmente este fica sempre no fundo da lista. No entanto, as cartas divididas por estilo de vinho em vez de por região estão a ajudar um pouco a elevar o conhecimento relativamente a Portugal” diz.

Apesar disto, Richard considera que os vinhos portugueses ganham cada vez mais terreno nas lojas da especialidade e retalho independente, onde os profissionais são mais conhecedores e conseguem, ao mesmo tempo que vendem de forma mais personalizada, educar o consumidor. “The Wine Society e Tanners são muito bons exemplos de onde isto está a acontecer” ilustra. Richard realça ainda que a qualidade do vinho português tem melhorado de forma dramática nos últimos 20 anos, no entanto, e em concordância com o que foi dito por Anthony Symington, um dos problemas que identifica é a associação preço/qualidade com que alguns destes vinhos chegam ao consumidor nas grandes superfícies “Dos vinhos mais baratos que estão à venda no Aldi ou Lidl no Reino Unido são portugueses, no entanto sabemos que Portugal nunca será um local barato para produção de vinho dada a falta de economia de escala, economia esta que existe noutros lugares como Espanha ou América do Sul”. Na sua opinião, Portugal centra-se muito no consumo de mercado doméstico e, de modo a conseguir uma crescente internacionalização “deve focar-se em promover os seus melhores vinhos através da educação do consumidor e tirar vantagem da percepção que existe no UK relativamente a Portugal e aos portugueses de que são um povo amigável e hospitaleiro” remata.

AAssim, podemos concluir que apesar de alguns obstáculos ainda por ultrapassar, o vinho português começa a revelar-se como uma categoria emergente no mercado inglês, reflexo não só do aumento do turismo e do crescente esforço de internacionalização mas também devido a uma maior percepção por parte do consumidor da qualidade e versatilidade que o nosso vinho tem para oferecer.

Created By: Ana João Pedrosa Isidoro
Published: 29-10-2017 13:00

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