Depois de um período mais conturbado na história da Finlândia - marcado por domínios e cenários de fome, o país do norte da Europa alcança este ano o topo das classificações, como o mais seguro, mais feliz e mais bem governado do mundo, de acordo com a ONU.
A capacidade de resistir perante as adversidades é uma característica finlandesa que os torna seguros de si mesmos, discretos e muito dependentes de uma sociedade altamente cooperativa.
Grande parte do êxito do desenvolvimento económico do país é atribuído a uma série de coligações governamentais, que realizaram grandes investimentos em infraestruturas, indústria e novas tecnologias, tendo vindo a investir generosamente em investigação e desenvolvimento (I&D).
A indústria de biotecnologia da Finlândia ocupa o sexto lugar na Europa: 10% das empresas biotecnológicas europeias são finlandesas. As áreas de maior presença são produtos farmacêuticos, biomateriais, diagnóstico e enzimas industriais.
O meu estágio no INOV Contacto está a ser desenvolvido em Genética, no Instituto de Biotecnologia da Universidade de Helsínquia. O Instituto está inserido no HiLIFE (Helsinki Institute of Life Science), que é um programa recente que combina os esforços entre os diferentes campus da Universidade e facilita parcerias, nacionais e internacionais, em áreas de pesquisa, infraestruturas e inovações. Assim, diferentes departamentos, professores e investigadores cooperam em estreita colaboração com outras universidades, institutos, empresas e políticos.
No Instituto, os investigadores trabalham, sob o ponto de vista académico, gerando informação que ambicionam publicar em jornais e revistas científicas, e progredir nas suas próprias carreiras, contribuindo para o estado da arte e o desenvolvimento de outros cientistas.
Além disso, o número e a qualidade das publicações definem a excelência dos grupos de investigação e, consequentemente, a facilidade em aumentar e diversificar a sua base de financiamento para manter e melhorar as respetivas atividades. Embora o Instituto seja financiado pelo governo, o sucesso em atrair financiamento extra por parte dos grupos de investigação, nomeadamente de fontes internacionais, é fruto do reconhecimento por parte da comunidade científica.
A par da produção de informação e conhecimento, também se desenvolvem aplicações práticas a partir de descobertas científicas que serão depois comercializadas, através de startups, como resultado da cooperação sinergética com empresas que procuram no Instituto recursos humanos altamente qualificados e com ideias inovadoras.
Na minha opinião, o sucesso e reconhecimento do Instituto é o reflexo de um país que assenta numa estrutura sólida, coesa e organizada, tendo sido muito importante a decisão tomada pelo governo em 1996, de alocar fundos de privatização de empresas estatais, para o financiamento da ciência e tecnologia. Cerca de 3 a 4 % da riqueza anual da nação é investida em I&D o que coloca a Finlândia em segundo lugar no mundo em gastos com I&D per capita, sendo que, do investimento total, 32% são financiados pelo governo e 68% pelo setor privado.
Em suma, na minha opinião, o país é um modelo de como os objetivos e os métodos utilizados nos setores público e privado, se conjugam eficazmente, numa relação de simbiose, com o objetivo estratégico de melhorar a sua capacidade de inovar e incentivar a competitividade e o crescimento económico.
Investigação científica - cooperação público-privada na Finlândia
Na Suécia, existe um esforço coordenado das organizações governamentais, universidades e empresas que pretende dar resposta aos novos desafios tecnológicos e acelerar o desenvolvimento económico e social do país. Um dos melhores exemplos deste tipo de iniciativas é o instituto de investigação RISE (Research Institutes of Sweden) criado em 2017 [1]. Esta instituição pertence inteiramente ao estado sueco e resultou de uma fusão de vários institutos públicos dedicados à investigação. O objetivo é manter uma visão estratégica unificada, centrada num órgão mais competente e mais forte responder às necessidades de investigação e inovação do país. O RISE tem uma colaboração muito próxima com o meio académico, oferecendo programas de mestrado e doutoramento em colaboração com universidades suecas. Adicionalmente, o instituto presta serviços de apoio a pequenas e médias empresas, disponibilizando laboratórios e especialistas que ajudem ao desenvolvimento de novas tecnologias, estratégias e produtos. Os interesses da investigação deste instituto espelham as preocupações sociais e políticas na Suécia, verificando-se grande ênfase em fomentar o desenvolvimento de uma economia sustentável, reduzir o impacto ambiental e garantir uma sociedade segura.
Outro pilar desta relação muito próxima entre os setores público e privado é a colaboração constante e eficaz entre universidades e empresas. O exemplo mais óbvio é provavelmente o instituto técnico KTH que tem inúmeras parcerias com empresas na área de tecnologia, nomeadamente nos seus centros de competências dedicados a áreas do conhecimento emergentes, e que são desenvolvidos conjuntamente com os setores público e privado [2]. Analisando estes fatores, não é surpreendente constatar que um estudo feito pela Comissão Europeia em 2016 indica que a Suécia é um dos países com níveis mais altos de publicações científicas, resultantes de colaborações público-privadas [3].
Na última década tem-se verificado uma revolução global causada pela nova era de data science e machine learning. Na Suécia, o setor privado está a apostar muito na análise de dados avançada, como forma de aumentar a sua competitividade.
O estágio INOV Contacto que estou a realizar na Nortal, uma empresa focada em providenciar soluções tecnológicas, é um claro exemplo desta tendência. Trabalho como data scientist no contexto de marketing e vendas com o objetivo de extrair perceções significativas das informações comerciais obtidas digitalmente para que as empresas possam tomar decisões mais informadas e inteligentes. O governo sueco tem dado o seu contributo, tornando os dados recolhidos pelos vários órgãos estatais, públicos e facilmente acessíveis. Tem ainda procurado demonstrar o potencial da informação disponibilizada através de eventos como o Hack For Sweden [4]. Esta iniciativa consiste em juntar programadores, cientistas de dados, designers e representantes das várias entidades públicas que, ao longo de 48 horas, desenvolvem projetos e demonstrações que utilizam informação governamental para melhorar a vida dos cidadãos. Tive a oportunidade de participar neste evento como cientista de dados (foto abaixo) e fiquei impressionada com o nível de dedicação, planeamento e organização que o governo dedica a esta iniciativa.
Concluindo, penso que a Suécia tem demonstrado uma integração muito saudável e produtiva dos setores público e privado. Acredito que as iniciativas governamentais mencionadas podem ser inspiração para alcançar um melhor esforço coletivo para o desenvolvimento tecnológico em Portugal.
Conclusões
Finalmente, podemos concluir que tanto a Suécia como a Finlândia são países nos quais os métodos de cooperação dos sectores público e privado são muito eficazes no incentivo à competitividade e crescimento económico.
Em ambos os países, por razões não só práticas, mas também culturais, as estratégias e políticas governamentais têm um papel fundamental na colaboração público-privada, criando condições propícias à inovação e ao desenvolvimento económico, sem perder de vista os interesses sociais.
Legenda da imagem de destaque: Eu e um dos meus colegas de equipa no evento Hack for Sweden que decorreu de 2 a 4 Julho de 2018.
Referências
[1] – https://www.ewi-vlaanderen.be/sites/default/files/science_research_and_innovations_performance_of_the_eu.pdf
[2] - https://www.ri.se/en
[3] - https://www.kth.se/en/forskning/sarskilda-forskningssatsningar
[4] - https://hackforsweden.se/