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Racismo e exclusão social

Bernardo Martinho | C22 | Limiar Capital Management | Virginia, EUA

Introdução

Atualmente, não existe tópico mais divisório nos Estados Unidos da América do que o racismo e exclusão social. Compreender a génese dum tópico com tamanha complexidade e o rumo que tomou, exige uma análise multidisciplinar, um olhar crítico para toda a história do país e um enfoque nos acontecimentos dos últimos anos.

Escravatura

Não obstante a escravatura ter sido abolida em 1865 como resultado da Guerra Civil, os direitos dos afro-americanos continuaram sem ser reconhecidos durante grande parte do século XX. Apenas em 1965, os protestos em massa do American Civil Rights Movement, tiveram efeito contra a segregação e discriminação existente. Trata-se, portanto, de uma questão relativamente recente para o povo americano, com implicações ainda hoje em dia.

Imigração ilegal

No entanto, o racismo existente hoje em dia ganhou contornos diferentes, à medida que a imigração ilegal nos Estados Unidos ganhou força.

A imigração ilegal proveniente da América Central e do México atingiu o pico em 2007, situando-se atualmente (últimas estimativas datam de 2015) em 11,5 milhões de imigrantes em situação ilegal, o que representa 3,4% da população total dos EUA.

As maiores criticas à imigração ilegal são o aumento da criminalidade e o “roubo”, por parte dos migrantes, de emprego dos cidadãos americanos.

Relativamente à primeira questão, existe extensa literatura de que não existe correlação entre imigração ilegal e aumento do crime, havendo estudos que argumentam que o contrário ocorre, como é o exemplo de Light, Michael T.; Miller, TY. "Does Undocumented Immigration Increase Violent Crime?" ou Green, David (2016-05-01). "The Trump Hypothesis: Testing Immigrant Populations as a Determinant of Violent and Drug-Related Crime in the United States".

Não obstante, é necessário referir que existem grupos criminosos nos Estados Unidos constituídos por 90% imigrantes da América Central, que se dedicam ao tráfico de drogas e outros crimes violentos.

Dum ponto de vista económico e indo de encontro à segunda crítica à imigração, o consenso é de que imigrantes ilegais maioritariamente aceitam emprego pouco atrativo onde auferem rendimentos mais baixos e que a maioria dos americanos não quer fazer.

Este sentimento de que os migrantes roubam os trabalhos dos cidadãos acentua-se particularmente em situações de desemprego elevado. Portanto, o desemprego e o racismo aparentam ter uma correlação positiva.

Crime por raça

Um estudo de 2003, D'Alessio, S. J.; Stolzenberg, L. (1 June 2003). "Race and the Probability of Arrest", concluiu que a probabilidade de ser detido, na sequencia de ter cometido crimes como assalto ou roubo à mão armada é maior para pessoas brancas do que afro americanos ou hispânicos.

Aliás, as sentenças de prisão são substancialmente mais longas, em média, para afro americanos e hispânicos do que para brancos (64,1 meses, 54,1 meses e 32,1 meses, respetivamente). Adicionalmente, a taxa de encarceração é bastante díspar entre raças: 450 por cada 100mil habitantes brancos, 831 por cada 100mil habitantes hispânicos e 2306 por cada 100mil habitantes afro americanos.

Isto torna o problema vastamente mais complexo, pois torna-se necessário entender se a diferença de encarceramento poderá ter uma explicação discriminatória. Independentemente dos números, a razão pela qual esta disparidade existe continua a ser alvo de estudo intensivo.

Experiência pessoal

A minha experiência nos Estados Unidos, embora curta, permite-me tirar algumas ilações relativamente ao racismo e exclusão social. No entanto, é necessário notar que a minha experiência se limita apenas a uma cidade, portanto não poderá ser indicativa de um país inteiro, muito menos de um país com a dimensão geográfica e densidade populacional como os EUA.

DC, tratando-se da capital dos EUA, é uma cidade multicultural, com cidadãos de todos os países do mundo e uma população relativamente jovem. Sendo uma cidade com tanta diversidade, a incidência de racismo tende a ser inferior, do que numa cidade mais uniforme.

Efetivamente, nunca testemunhei nenhuma situação de racismo ou exclusão. Pelo contrário, vejo, com bastante frequência, um sentimento de cordialidade entre todos os cidadãos, independentemente da etnicidade.

No entanto, uma coisa parece ser evidente para mim: existe uma correlação entre o nível de riqueza/pobreza e a etnia. Isto torna-se particularmente evidente no consumo de bens necessários, como a alimentação.

Exponho o meu argumento com dois exemplos práticos: restauração e retalho alimentar (supermercados).

O preço médio dum jantar em DC rondará os 20/25 dólares, por pessoa, com direito a prato e bebida. Por outro lado, em cadeias de fast-food, o preço pelo mesmo serviço, ronda em média 10 dólares. E nas ocasiões em que fui a cadeias de fast-food como McDonald’s ou Wendy’s, deparei-me sempre com o mesmo panorama: a maioria dos consumidores era afro-americana ou hispânica. A situação torna-se mais evidente à medida que nos afastamos do centro, em que ao invés de ser a maioria, passa a ser a totalidade dos consumidores.

O mesmo ocorre com o retalho. Em supermercados mais caros como Safeway ou Giant, os consumidores são predominantemente brancos. No entanto, nas opções mais baratas como o Walmart, os consumidores são predominantemente minorias.

Acresce ainda o processo de gentrificação que DC sofreu nas últimas décadas. DC era considerada a capital do homicídio nos Estados Unidos até à década passada. O processo de gentrificação que a cidade sofreu permitiu aumentar o nível de vida e, consequentemente, o custo de vida, o que obrigou a população mais pobre a migrar cada vez mais para as periferias. De momento, a população da periferia da cidade é maioritariamente hispânica e afro-americana.

Durante as duas primeiras semanas, aluguei um apartamento mais longe do centro e era notória a população de El Salvador, Guatemala, México, assim como afro-americanos.

Apenas quando me mudei para o centro de Rosslyn, uma zona cara de Virgínia, onde as sedes de empresas estão (o Central Business District de Virgínia), é que me apercebi deste efeito, dado que onde moro atualmente, a população é, arrisco-me a dizer, 80% branca.

Conclusão

O tópico do racismo e exclusão social nos Estados Unidos é deveras complexo, não sendo possível extrair conclusões concretas em tão poucas palavras, ou numa observação tão superficial. No entanto, penso que posso concluir da minha célere experiência aqui, de que embora não tenha testemunhado de forma alguma, racismo explícito, parece existir uma forma de exclusão social, ou até mesmo, de racismo, a ocorrer subtilmente.

Created By: Bernardo Pinto Leite Magalhães Martinho
Published: 19-03-2019 15:25

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