Erick Isea Geraldo I C14

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Barcelona | Espanha

Grande serviço público! O Bicing, um serviço de bicicletas à disposição dos habitantes de Barcelona, começou em 2007 com uma previsão de utilizadores a rondar os 85.000 nos primeiros três anos. O que aconteceu foi que, afinal, em apenas dois anos essa cifra mais do que duplicou, passando para os 186.000 utilizadores!

Então qual o motivo do sucesso deste serviço numa cidade onde, apesar da rede de transportes ser fantástica, vemos executivos e executivas a deslocarem-se para os seus escritórios de bicicleta? Eu diria que temos dois factores...ou três, que o justificam: geográfico (acima de tudo) e qualitativo. O terceiro...cultural mas creio que os espanhóis nunca tiveram esse costume.

Geograficamente, Barcelona é uma cidade plana, ao nível do mar e não tem “sete colinas” como Lisboa. Se Lisboa algum dia projectasse um serviço de bicing iria precisar, com toda a certeza, de incluir nas suas infra-estruturas um teleférico, tal como existe na neve, para nos levar até às pistas, e isso seria muito complicado... ou teriam de substituir os nossos eléctricos! Aí sim, perderíamos um símbolo tão típico de Lisboa...

Barcelona  está delimitada pelos planos e deltas dos rios Bèsos e Lobregat, a população na cidade é de dois milhões de habitantes e de mais de três milhões na área metropolitana. Imaginem o que seriam 5 milhões (metade da população Portuguesa) a circular todos os dias de metro... Um caos! Além do mais, o plano urbanístico de Barcelona assenta numa malha de paralelas e perpendiculares pelo que, é só “seguir recto, recto, recto...” evitando que alguém nos responda “Eiii vais dar uma granda volta!” quando perguntamos: “Como vamos até Praça Catalunha?”.  Isso sim aconteceria em Portugal, com excepção apenas na Baixa Pombalina graças à sua reconstrução em 1755.

Sendo Barcelona uma cidade plana, a ideia do Bicing ser assumida no sentido pleno e holístico dos transportes públicos, foi genial! E é um serviço que tem como destinatários os habitantes de Barcelona e não os turistas. Para eles, existem serviços de aluguer de bicicletas, não o Bicing.

Por 30 € anuais temos um cartão, que recebemos em casa, e que nos permite aceder às mais de 6.000 bicicletas localizadas em mais de 400 estações. E aqui entramos no factor qualitativo deste serviço. É que as bicicletas são mesmo boas: 4 mudanças, luzes, assento confortável, bons travões...sim senhor! Estava à espera de menos. Vemos sempre pela cidade uma carrinha a dizer Bicing Manutención a puxar um atrelado com algumas bicis atrás, a caminho da revisão... É todo um serviço fantástico que dá emprego a mais de 200 pessoas em Barcelona e que permite poupar a nossa carteira e algumas emissões de Co2. Se além disto tudo acrescentarmos as faixas bem delineadas e pavimentadas destinadas ao Bicing e o respeito e civismo dos condutores por aqueles que se deslocam de bicicleta pela cidade, temos uma verdadeira alternativa aos transportes públicos. Que aliás, aqui em Barcelona já o é!

Poderia este serviço andar pelas ruas de Lisboa? Poderia,  mas não seria a mesma coisa!