Bernardo Roque,
Cristina Duarte,
Filipe Lencastre
O primeiro contraste entre a cultura organizacional brasileira e a portuguesa reside na informalidade e descontração no ambiente de trabalho. O ritmo diário é menos acelerado, uma vez que existe uma distribuição pouco eficiente dos recursos humanos face ao que seria necessário, havendo um sobredimensionamento generalizado nas estruturas organizacionais - tal facto resulta numa taxa de desemprego abaixo dos 6%.
Durante a presente experiência de estágio e segundo a perceção da passagem que tivemos por empresas portuguesas, considerámos que as lusas se diferenciam das brasileiras através de:
- Rigor, sendo dada menor tolerância a erros, atrasos ou faltas;
- Maior sentido de responsabilidade, talvez explicada pelo rigor exigido, pela maior dificuldade em conseguir outro trabalho e pela facilidade com que se pode ser despedido;
- Ambientes mais competitivos e individualistas, contra práticas onde se incentiva o trabalho em equipa;
- Horários de trabalho mais incertos, recorrendo muitas vezes a horas extra. No Brasil tal acontece muito raramente, cumprindo-se rigorosamente os horários estabelecidos;
- Idade de início da carreira profissional, que acontece durante os estudos universitários ou por volta dos 16 anos;
- O “jeitinho” que o brasileiro sempre arranja para resolver os problemas e imprevistos.
Aliás, a simpatia e o sentido de humor estão sempre presentes. O brasileiro comum é caloroso, acolhedor, hospitaleiro, afetuoso e generoso. Possui necessidades de aproximação e valorização da família, com um sentido de responsabilidade e proteção muito grandes.
A relação de proximidade entre o líder e o subordinado consiste na principal diferença que se encontra na liderança de equipas. O líder sente que se conquistar a confiança e o coração do funcionário terá o profissional à disposição, estimulando-o assim a ter orgulho da função e da empresa. Deste modo, procura investir muito nas pessoas, por meio de cafés da manhã, lanches, churrascos, jogos de futebol e conversas informais. Existe uma grande abertura para os funcionários desabafarem sobre problemas particulares e para serem dispensados em situações de necessidade, pois se o funcionário estiver instável emocionalmente, não será tão produtivo.
A barreira entre o líder e o subordinado é ténue. No entanto, verifica-se um enorme sentido de respeito e confiança pelo superior, pelo que, quando é necessário cobrar por pontualidade, postura, produtividade ou resultados, impera o rigor e a obediência, notando-se até uma certa passividade e submissão perante o superior hierárquico.
Na Embraer é notória a preocupação com a valorização e capacitação do capital humano, dos valores e bem-estar do funcionário, oferecendo a todos as mesmas possibilidades de progressão de carreira, de rotação de postos de trabalho/áreas de negócio. A meta é proporcionar “pessoas felizes, competentes, valorizadas, realizadas e comprometidas com o que fazem (valores Embraer). Com a implementação da Filosofia Lean, e tratando-se de uma indústria onde a margem de erro tem que ser quase inexistente, não é possível dar esse “jeitinho brasileiro”, mas sim ter uma atitude empreendedora alicerçada em planeamentos integrados, delegação responsável e disciplina de execução. O facto de se tratar de uma empresa com origem governamental e de "interior", faz com que a cultura seja um pouco mais conservadora e “militarizada” do que nas restantes empresas brasileiras.