Barcelona é uma cidade carismática. Um lugar com uma intensidade fortíssima em que se respira arte, inovação, ideias, modernismo, interculturalidade e onde existe um pensamento alternativo em relação à forma de estar e viver. A miscelânea de caras e culturas que passam por nós todos os dias é incrível. É uma capital do mundo em que a globalização é evidente, desde todas as empresas multinacionais que estão presentes, passando pela quantidade gigantesca de turistas que passam diariamente pelas ramblas da cidade, até uma comunidade extremamente diversa de imigrantes que vivem e trabalham nas mais diversas áreas.
Em certos bairros, como o Raval (perto de onde vivo), os nativos residentes são escassos. É um bairro onde moram principalmente imigrantes (Paquistaneses, Marroquinos, Chineses, etc.) e onde a ocorrência de um negócio obscuro parece estar sempre iminente. No entanto, este espaço não deixa de ter uma mística só sua, uma vida nocturna alternativa e um ambiente de contrastes. Existem problemas de integração, pobreza, prostituição, marginalidade, que se traduzem em cartazes de protesto dos moradores em algumas varandas dizendo Volem un barri digne! (Queremos um bairro decente!).
São questões complexas de muito difícil resolução. Um aspecto positivo é que, em cada bairro, existem associações de moradores que discutem os problemas e tentam arranjar soluções, talvez por isso estas questões sejam resolvidas pouco a pouco e os níveis de criminalidade e violência na cidade sejam mais baixos do que seria de esperar.
Existem imensas realidades em cada bairro que se misturam com muito turismo, imigração clandestina, estudantes estrangeiros, viajantes e jovens de todo o mundo que vêm trabalhar por um período curto de tempo em Barcelona, para usufruir das suas magias e perdições. Este último aspecto faz também com que este local seja um sítio de constantes despedidas. As pessoas passam, conhecem, exploram, vivem, recebendo o que a cidade tem para lhes dar, saindo depois com memórias incríveis de momentos que ficarão para sempre.
Quanto aos catalães, parecem-me muito parecidos, em costumes, conversas, humor e maneira de estar com os portugueses. Fiquei surpreendido quando aqui cheguei, porque não tinha uma noção clara de quão regionalistas eles eram em relação à sua identidade patriótica. Sempre que podem falam catalão e, na sua grande maioria, apresentam-se como catalães ao invés de espanhóis. Não são extremistas nas suas ideias mas defendem a sua própria cultura regional e suportam que a independência em relação a Madrid seria algo benéfico.
A organização da cidade é incrível, desde os bairros feitos a régua e esquadro por todo o Eixample, passando pelo sistema de bicicletas comunitárias Bicing, até à constante limpeza da cidade, que é obrigatória devido à grande concentração populacional na área metropolitana.
Já o factor turismo em Barcelona é algo controverso. Parece que tudo está a acontecer para ganhar dinheiro, os artistas de rua, os Paquis da cerveja e das geringonças, as inúmeras lojas e tendas que vendem tudo o que a mente pode imaginar.
A economia está sempre a girar num ambiente de consumo desenfreado em que o estrangeiro está constantemente a ser bombardeado com estímulos e experiências que o levam a deixar cair a sua nota.
Outro aspecto engraçado, ou não, da cidade é a sua relação com os Portugueses, devido a resquícios da passagem do jogador de futebol Luís Figo pelo FC Barcelona. Aconteceu mais de uma vez ouvirmos catalães a cantarem Ese Portugues, hijop*ta és!, um fenómeno no mínimo caricato.
A nível produtivo, é uma cidade com grande capacidade industrial, onde a inovação e criatividade são levadas a sério.
É uma experiência fantástica estar onde estou.
Barcelona é uma cidade com inúmeras oportunidades tanto a nível profissional como de lazer.