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México - “la incomprensión del presente nace, fatalmente, de la ignorancia del pasado”

Eduarda Fernandes | C14

St. Regis Mexico City | Ciudade de México

México

 

Cheguei ao México há quase 6 meses e lembro-me perfeitamente da ingenuidade que trazia, quando pensava que nada seria mais difícil do que habituar-me  às 6 horas de difrença de fuso-horário, à altitude, à poluição e à dimensão da cidade. Três semanas depois, e depois de muito interagir com os nativos, percebi que o meu problema seria outro. Comprei o primeiro livro sobre a identidade nacional mexicana, uma referência literária, “El Laberinto de la Soledad” de Octavio Paz. Não satisfeita, leio “Mexicanidad vs Identidad Nacional” de Martha Luz A. Ramírez e percebo, à segunda, que o fascínio pelo México não está só na variedade gastronómica (que afecta penosamente os mais sensíveis), nem na paleta de cores que vês por todo o lado, nem na história dos Aztecas e dos Mayas ou no festejo do dia dos mortos; o fascínio e o verdadeiro México, que sentes, que aprecias, que adoras, mas que não compreendes, está e existe quando conheces os mexicanos. Quando pergunto quais são as principais características dos mexicanos, em geral escuto aspectos negativos que andam sempre à volta da imagem do mexicano dormindo à sombra de um nopal com um poncho, de huaraches (sandália típica mexicana) e um sombreiro ou a imagem citadina do mestiço que é festeiro, mentiroso, borracho e que se diverte a gozar os outros (geralmente por jogos de palavras, chamados de albures).

 

Entre estas duas imagens, passa uma linha psicológica de melancolia, fatalidade, inferioridade, preguiça, ressentimento e violência. A verdade é que o México deixou de ser um país rural para se transformar num país industrializado, onde 25 milhões de indivíduos vivem em condições de pobreza extrema e mais 40 milhões em situação de pobreza. Este facto não impede, no entanto, de o México ser um país culturalmente consumista. Quase todos têm televisão em casa e desde que haja coca-cola ou sabritas (batatas fritas de pacote equiparáveis às Lay's) ou, no cúmulo da festividade, coca-cola e sabritas, o mexicano está feliz. A sociedade impõe a ideia de que a realização pessoal só existe quando o mexicano pode exercer o direito de comprar o que quer, a curto prazo. Esta característica traz consigo um rol de consequências, entre elas, a pouca capacidade dos mexicanos fidelizarem (e a grande inclinação para a corrupção). A vontade do dinheiro rápido e momentâneo transforma-se em ganância e ofusca qualquer ética profissional e qualidade de serviço. O único interesse passa a ser vender o mais possível, porque o cliente pode não voltar, em detrimento de ser profissional e justo para o cliente querer voltar. Esta incapacidade de assegurar o futuro em prol de uma maior gorjeta levou-me ao primeiro conflito cultural e à necessidade de os perceber (história: fui à farmácia com o nome de um medicamento que me aconselharam para curar uma amigdalite, venderam-me uma caixa aberta, à minha reacção de “mas, está usada!” responderam-me “não há problema, é mesmo assim”, mesmo descrente, as dores falaram mais alto, paguei e ao sair da farmácia vejo que o medicamento já estava fora da validade, regressei e disse “venderam-me um medicamento fora da validade!?” o senhor agarrou na caixa e devolveu-me o dinheiro sem dizer uma palavra).

 

Depois de ler El Labirinto de la Soledad, entendi que as dificuldades humanas com que eu lidava no trabalho não eram ocasionais e que os problemas do México contemporâneo têm raízes no seu passado, no nascimento da nação mexicana durante o tempo da conquista. O encontro dos aztecas com os espanhóis foi gerador de violência, frustração, medo e traição, elementos que resultaram na criação de uma classe de “mestiços”, complexados pela sua “inferioridade”, desvalorizados, rejeitados e desprezados. Estes problemas coexistem actualmente nos mexicanos e são visíveis nas suas atitudes defensivas e no seu racismo pela própria raça. Agridem para não se magoarem, através da ironia, do gozo e da troca de palavras, burlam  todos para se sentirem superiores e não mostrarem os seus verdadeiros sentimentos, discriminam-se uns aos outros - pelo número de traços indígenas que cada um tem, vivem numa sociedade matriarcal no seio familiar, mas machista no trabalho, desconfiam e duvidam de tudo e de todos, são medrosos e invejosos - têm medo de sobressair, mas arranjam todos os argumentos para atacar quem sobressai, têm uma tendência para o sofrimento e resignação, adoram o formalismo e são capazes de, na mesma frase te pedirem desculpa e de te agradecerem por teres desculpado, são desorganizados e obstinados - não obedecem às leis nem às normas ou standards de trabalho e arranjam sempre argumentos para justificar as suas falhas - geralmente culpar o mais débil, são susceptíveis, ofendem-se e amuam por tudo mas não são rancorosos, não têm qualquer noção de limpeza ou dever cívico - “El mexicano donde quiera que se pare deja su huella, la basura.” de Fernando Mota. Paradoxalmente, a estes traços, a nosso ver muitas vezes negativos, mas assumidos sem vergonha pelos mexicanos como parte do seu carácter, encontrámos características que fazem deles únicos, como a dedicação incondicional ao trabalho - quando são valorizados , a atitude serviçal, a bondade, a paciência e o bom humor, a vontade de colaborar e participar em tudo, a alegria de viver, dançar, conversar e rir constante, o respeito, a tolerância, a obediência e o engenho que demonstram em qualquer situação e a facilidade de relacionamento, a facilidade com que nos dão atenção e se dedicam, fazendo-nos crer que somos todos uma grande família. Com tanta contradição, os mexicanos unem-se pelo seu nacionalismo, adoram o seu país (mesmo deitando o lixo para o chão), adoram a sua bandeira, o hino nacional e vivem e morrem orgulhosamente mexicanos.

 

O México é um país pobre mas muitos problemas no desempenho laboral surgem em torno do elemento humano. Para compreender, orientar e tirar o melhor proveito da cultura mexicana é necessário, e inevitável, conhecer a sua psicologia.

 

Created By: Eduarda Isabel Sotomaior Ribas Fernandes
Published: 09-09-2010 9:00

Comments

Re: México - “la incomprensión del presente nace, fatalmente, de la ignorancia del pasado”

Obrigada Eduarda pela tua analise da cultura mexicana. Muitas vezes, ao viajarmos para onde quer que seja focamos-nos no local em si e esquecemos-nos que o que faz realmente o destino sao as pessoas. Parabens. 
Ana Salomé Avelãs Ferreira Pinto at 27-05-2011 15:39

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