Vivemos num mundo em que há um MAS na condenação da invasão da Rússia na Ucrânia. "Então, mas:
- … Os EUA também invadiram o Afeganistão, o Iraque, ... "
De que forma é que esses factos históricos desresponsabilizam Putin? Condenar esta guerra impede-nos de condenar guerras anteriores?
- … É necessário responsabilizar a NATO e a UE pelo "cerco" que realizaram à Rússia".
Não tomando as decisões de ambas como ingénuas, não deveriam os países independentes e democratas ser livres de decidir a que organizações desejam pertencer e que modelos de vida pretendem adotar? Ou é expectável que apesar da sua soberania tenham de continuar a viver sob diretrizes de regimes ditatoriais a que já não pertencem? Tenho a impressão de que estamos perante o paralelo do estudante que sofreu bullying durante anos e um dia decidiu entrar na sala e matar o maior número de colegas e que, portanto, o que estamos aqui a afirmar é que o ato é justificável.
- ... "Existem, de facto, neonazis na Ucrânia."
Não existem também em Portugal?
Este incauto exercício de contabilização da culpa é a triste metáfora do estado de insensatez e inconsciência a que chegou a andrajosa racionalidade dos que estão longe das bombas.
Ao invés de nos focarmos nos MAS talvez fosse importante focar-nos no que são factos. A Rússia é um estado ditatorial. Putin pretende restaurar a ex-URSS. A Rússia invadiu um país independente e democrata. Continuo a crer que o diálogo é a única forma de fazer a paz regressar à Ucrânia. Mas continuo também a acreditar que Putin não irá parar. E presa a esta minha última afirmação afirmo que anseio muito que dentro de dias, semanas ou meses possa dizer: estava errada.
Fotografia: AP Photo/Vadim Ghirda