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“It began as a mistake” – Adaptação dos Juristas às Novas Necessidades do Mercado

Gonçalo Dias Figueiredo | C23 | C&C Lawyers & Notaries | Macau | China

Business suit

“ It began as a mistake” – foi a frase icónica com que Charles Bukowski deu início ao seu livro “The Post Office” (1971), onde percorre, com toda a arte que se lhe reconhece, os doze anos em que o seu alter-ego, Henry Chinaski, trabalhou como carteiro.

O mercado jurídico atual está em inegável mudança. Se é verdade que há novos profissionais a entrar neste mercado por sentirem a real vocação do serviço à justiça, muitos acabam por se mover em direção à promessa de uma remuneração avultada e à imagem daquilo que no passado eram as profissões socialmente superiores às demais (sim, acredito que esta mentalidade ainda vai subsistindo). Para estes últimos “it began as a mistake”.

O mercado tem vindo a impor uma lógica de “mais por menos”: exige-se produção de um maior volume de trabalho com custos mais reduzidos. Os tempos de ouro dos atores jurídicos do passado parecem ter o seu fim bastante próximo. Porém, as necessidades de quem precisa de recorrer a serviços jurídicos (e que financeiramente sustenta este mercado) vão acabar por ditar uma mutação ainda mais acentuada.

Se a reação imediata dos profissionais jurídicos tem sido a de trabalhar mais e reduzir os preços, estamos em crer que este caminho é insustentável. A alternativa (à qual já estamos a assistir) estará, pois, na disrupção do próprio mercado jurídico, de modo a que se encontrem modos de prestação de serviços mais eficientes, que obedeçam à incontornável regra do “mais por menos”.

Os profissionais jurídicos que se recusam a olhar para este advento de mudança talvez estejam alheios ao facto de novos players (como disso são exemplo as Big 4) estarem a entrar no mercado. Talvez não tenham notado que empresas como a Axiom estão a arrebatar serviços jurídicos de empresas incluídas na restrita lista das Fortune 500. Talvez não tenham notado que a automatização de processos, como o recurso ao e-discovery, redação automática de contratos ou aproveitamento das possibilidades que se abrem com a AI, estão a originar um sem número de empresas que se intitulam como legaltech e que vão, aqui e ali, ganhando para si pequenas partes do mercado jurídico. Pouco sobrará para os anteriores “tubarões”, que nestas águas se moviam confortáveis, não imaginando que algo ou alguém pudesse desafiar a sua hegemonia.

Cada vez mais os trabalhos jurídicos serão decompostos em pequenas tarefas automatizáveis, o que permitirá eliminar, progressivamente, ineficiências e reduzir custos para os clientes.

Se acredito que a intervenção de profissionais jurídicos altamente qualificados será sempre necessária nos casos mais singulares, acredito também que as mutações neste mercado vão criar necessidades profissionais com diferentes valências, mas igualmente desafiantes.

O mercado jurídico atual exige maior eficiência, celeridade, automatização, colaboração entre os prestadores de serviços e quem a eles recorre, bem como uma coordenação de equipas eficaz, capaz de entrosar os seus membros e, desse modo, alcançar resultados de excelência.

Profissionais jurídicos com competências tecnológicas, gestores de projetos jurídicos, analistas de processo, data scientists ou gestores de risco são apenas algumas das possibilidades que se estão a abrir no horizonte dos novos juristas.

Talvez longe do glamour de ícones jurídicos retratados em Hollywood como verdadeiras superstars, a maioria das profissões jurídicas do futuro poderão trazer aos seus intervenientes a sensação de estarem a contribuir para algo maior – o desejado acesso à justiça para todos – o que será, sem dúvida, bastante gratificante.

Aqueles que fecharem os olhos a estas mudanças, dirão talvez mais tarde, como Bukowski, “it began as a mistake”. Para os demais, o futuro poderá ser bem mais risonho.

Imagem de destaque:"https://pixabay.com/pt/photos/terno-de-neg%C3%B3cio-neg%C3%B3cios-homem-690048/"

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Created By: Gonçalo Filipe Dias Figueiredo
Published: 24-08-2019 11:34

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