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O Sistema de Crédito Social Chinês e o valor da Honra na sociedade chinesa
Caetana Duarte | C23 | Consulado Geral de Portugal | Guangzhou, China
 
Câmaras de reconhecimento facial na entrada da Universidade Sun Yat

O Sistema de Crédito Social Chinês (ou, se preferirmos, Sistema de Medição da Reputação) é um conjunto de iniciativas pensadas em 2007, iniciadas em 2014, que deverão ser alargadas a todo o país em 2020. Este sistema está a ser progressivamente aplicado pelos governos regionais chineses.

Assim, os diferentes ministérios avaliam os comportamentos sociais dos cidadãos e aplicam castigos (multas, perda de créditos ou até penas de prisão) ou recompensas.

Sucintamente, a aplicação deste sistema passa por atribuir aos cidadãos chineses um determinado número de pontos e, por cada ação que pratiquem, seja ela "positiva" ou "negativa", são-lhes acrescentados ou reduzidos pontos.

São consideradas Ações Públicas Negativas multas de trânsito, passar um sinal vermelho, criticar o governo nas plataformas online, não separação correta do lixo (embora neste ponto o projeto esteja ainda atrasado), evasão fiscal ou o não acompanhamento dos familiares idosos.

Em contrapartida, são considerados bons cidadãos os que pagam as suas contas atempadamente, os que doam sangue ou os que desenvolvem ações de caridade.

Quem vê os seus pontos aumentados pode obter  descontos em lojas ou serviços e uma maior facilidade nos empréstimos bancários ou no acesso a empregos estatais. Por outro lado, os cidadãos que têm os seus créditos reduzidos sofrem punições que, em casos graves, podem traduzir-se em proibições de viagens ao estrangeiro.

O Sistema de Crédito Social acaba também por ser um modo de controlo de toda a sociedade chinesa, já que, paralelamente, é instalado todo um sistema de vigilância (câmaras; reconhecimento facial) alargado a todos os espaços públicos, mas que acaba também por “vigiar” os espaços privados.

Este sistema suscita muita curiosidade da comunidade internacional (por exemplo, a Câmara Económica Europeia realizou um estudo sobre a matéria) e desconfiança. Por outro lado, as autoridades chinesas não querem discutir o assunto com elementos estrangeiros.

De modo a poder formar uma opinião mais sólida acerca deste tema, decidi perceber qual a opinião  de cidadãos chineses relativamente ao tema. Após falar com algumas pessoas, entendi que, embora já exista publicidade espalhada pelas cidades (pelo menos em Guangzhou), os chineses não procuram muita informação acerca do Sistema de Crédito Social Chinês nem se mostram muito incomodados ou desagradados com o que irá acontecer.

Na minha opinião, apesar deste plano remeter para uma ação  de controlo por parte do governo sobre os seus cidadãos, os chineses seguem as regras e leis de Pequim e não veem a aplicação do sistema de crédito como algo negativo, muito pelo contrário, encaram-na como uma forma de melhorar as condições do seu território, nomeadamente a nível de segurança e limpeza.

A China é um dos países mais seguros do mundo e isso deve-se, em grande parte, ao controlo e ao medo que os cidadãos têm do governo e das consequências que possam sofrer, caso cometam algum crime, pelo que concordam que o aumento da segurança na China irá contribuir, por exemplo, para o turismo e para o investimento.

Duas razões que, a meu ver, contribuem para a aceitação do sistema de crédito por parte dos chineses são: primeiramente, o facto de a sociedade chinesa viver muito de aparências, pelo que o exterior que é exposto aos estrangeiros é muito importante e, em segundo lugar, o facto de já existir atualmente tanto controlo através de vídeos e câmaras (seja no metro, edifícios ou nas próprias ruas) que os chineses já estão habituados a essa exposição e, portanto, mais câmaras ou mais controlo é-lhes indiferente.

Há, porém, um aspeto que perturba os chineses: a incerteza, ou seja, o desconhecimento dos seus registos pessoais. Isto porque os cidadãos podem ter perdido direitos, como o de viajar, e não terem sido informados, podendo ser confrontados publicamente com a desonra no momento em que pretendem viajar.

Numa sociedade onde salvar a face continua a ser um elemento fundamental, correr o risco de a perder publicamente é algo que os chineses evitarão sempre.

Foto de Caetana Duarte - Câmaras de reconhecimento facial instaladas na entrada da Universidade Sun Yat Sen, em Cantão

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Created By: Caetana Czarkowski-Golejewski Nina Duarte
Published: 23-08-2019 18:04

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