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Investigação e desenvolvimento: Cooperação entre Setor Público e Privado

Carolina Martins Resende Alves Nunes | C20

Allinky Biopharma │ Madrid

Espanha

 

 

 

Ao longo da história da ciência mundial poucos foram os espanhóis que tiveram o seu nome ligado a uma mudança de paradigma no mundo do conhecimento.

 

A ciência e a tecnologia em Espanha foram, até há bem pouco tempo, algo posto de parte da sua organização e do seu contexto social e, como país e  sociedade, apenas tirava partido das novas descobertas que chegavam de fora. ¡Que inventen ellos!’, uma expressão de Miguel de Unamuno (1864-1936), foi muitas vezes utilizada neste contexto, chegando a tornar-se um estereótipo nacional, muitas vezes dito com vergonha, outras com orgulho e que ilustra bem o panorama nacional.

 

 

Mas a mentalidade espanhola mudou e, nas últimas décadas, o investimento em investigação e desenvolvimento aumentou [1] e os resultados começaram a aparecer. Espanha foi considerada pela Royal Society, britânica a 90º potência científica mundial com 2.5% do total das publicações [2] científicas entre 2004 e 2008, período no qual se viu um grande aumento e o pico de investimento público na área. Mas, como em outros países da Europa, a crise chegou e o setor da investigação e desenvolvimento foi uma das duas primeiras vítimas [3].

 

Um dos grandes problemas de Espanha é mesmo a carência de investimento em I+D+i (Investigação, Desenvolvimento e Inovação) por parte das empresas privadas e, por consequência, a sua grande dependência de dinheiro público.

 

Neste momento, a atividade I+D+i está regulada pela Ley 14/2011, de 1 de junio de la Ciencia, la Tecnología y la Innovación, comumente chamada de Plano nacional I+D+i, que visa, entre outras coisas, contribuir para a melhoria da competitividade empresarial. Veio, assim, melhorar a perceção e comunicação dos avanços da ciência e da tecnologia à sociedade,  elevar a capacidade tecnológica das empresas, promover a criação de tecido empresarial inovador e melhorar a interação, colaboração e associação entre o setor público de I+D e o setor empresarial.

 

 

É comum existirem projetos financiados por empresas, executados em organismos públicos de investigação. Porém, nos últimos anos, também o financiamento empresarial de I+D universitária tem vindo a diminuir, tendo sido em 2013 12% inferior à registada em 2012. No mesmo ano, como em anos anteriores, foram os campos da engenharia e tecnologia que contaram com maior percentagem de financiamento empresarial (34.58%) [4].

 

A grande maioria da investigação em Espanha acontece com investimento público, não só nas Universidades, mas também em empresas tidas como privadas, mas que são subsidiadas pelo governo.

 

Nos últimos anos nasceram nas universidades muitas Spin-off, empresas criadas a partir de um grupo de investigação com o objetivo de explorar um novo produto, uma nova patente ou serviço de alta tecnologia.

 

Normalmente este tipo de empresas estabelece-se em incubadoras de empresas, como por exemplo, a empresa onde estou a estagiar [5], que é financiada por programas públicos ou por privados.

 

Um dos grandes investidores destas novas empresas que nascem todos os dias em Espanha é composto por agências de investimento de alto risco, compostas por vários investidores. Estes investidores escolhem aplicar o seu dinheiro em várias destas empresas e acabam por ter o retorno do mesmo, se apenas uma parte delas sobreviver e tiver sucesso no projeto que desenvolve.

 

Devido à diminuição do apoio público às universidades públicas direcionado para investigação, os resultados académicos espanhóis têm vindo a ser piores o que se reflete num menor número de patentes e de criação de empresas spin-off - menos 42% em dois anos (dados de 2013).

 

Mesmo as empresas que são criadas, pela dificuldade de financiamento e pela fragilidade de serem novas, acabam por não aguentar a pressão do mercado. No presente, as universidades têm vindo a recorrer a fundos europeus para financiar os seus projetos, para os quais o financiamento público foi rejeitado.

 

Entre 2010 e 2013 houve um decréscimo de 8.5 pontos percentuais no número de investigadores a tempo inteiro [6]. Este dado indica que, tal como em Portugal, a crise dos últimos anos tem vindo a afetar a ciência. A diminuição de apoios estatais à ciência tem vindo a fazer efeito e há cada vez mais investigadores a sair da ciência ou mesmo a emigrar.

 

Embora a maioria admita que trabalhar em ciência é uma desvantagem a nível social, e que o salário é baixo para o grau de estudos, ao não conseguir ver uma aplicação direta do setor no seu dia a dia não se impõe contra os sucessivos cortes de financiamento.

 

Assim, o estado de arte da ciência é idêntico na Península Ibérica. Por um lado, temos a investigação feita em instituições públicas, semi-públicas ou com apoio público, com investigação académica, financiamentos públicos e, pontualmente, de empresas privadas. Por seu lado, a indústria está dominada pelas farmacéuticas e por algumas empresas de biotecnologia.

 

No fim, todos concorrem aos concursos públicos nacionais, internacionais e da União Europeia como instituição, o que leva a uma monopolização do setor pelos ‘peixes grandes’.

 

Em ciência, o número que importa é o fator de impacto que é maior ou menor consoante o número de publicações e a qualidade das revistas onde essas publicações são feitas. Quanto mais recursos um laboratório tiver, maior a possibilidade de conseguir publicar artigos numa revista de elevado fator de impacto, o que aumenta as possibilidades de ganhar os concursos aos quais se candidata.

 

Acabamos então com a realidade, pouco dinheiro aplicado em bolsas de investigação (o sustento de um cientista), o que torna a entrada no mercado muito difícil para todos os que não são considerados de excelência.

 

Depois de acabar os meus estudos consegui entrar no mundo da investigação pública em Portugal.

 

A candidatura ao INOV aconteceu num momento em que a investigação me desiludiu, não como trabalho, mas como emprego. Sempre soube o que implicava trabalhar em ciência, pagamento ao fim do mês, mas nenhuma ou quase nenhuma proteção laboral e social, nada é garantido e o sustento resume-me a ciclos de 1/2/3 anos (dependendo da duração da bolsa). O cidadão olha para a folha de pagamentos de um cientista e, dada a conjuntura atual, podia ser bem pior. O problema está em que todos almejamos uma vida estável e com alguma rede de segurança e, neste meio, a maioria das vezes temos de decidir se queremos estabilidade ou fazer o que sempre sonhámos.

 

Estava pronta a seguir um caminho em direção à estabilidade, o INOV Contacto mostrou-me que pode haver um meio termo.

 

A Allinky Biopharma, a empresa onde me encontro a fazer o meu estagio, é uma start-up que funciona em três núcleos: bio informáticos, que desenham as moléculas, químicos que as sintetizam e biólogos que as testam em modelos biológicos.

 

Fui, de acordo com o meu currículo, inserida no núcleo que testa a ação das novas moléculas em células humanas. Estas moléculas são desenhadas para serem usadas futuramente no tratamento de doenças inflamatórias e do cancro.

 

A empresa é financiada  por fundos privados, mas também se candidata a concursos públicos. Aqui temos um pequeno vislumbre do que o equilibrio perfeito em ciência pode ser, alguma estabilidade laboral, com uma pitada de sonho que pode vir a salvar muitas vidas não daqui a muito tempo.

 

O alcance do equilibrio da ciência está hoje nas manchetes dos jornais, com a possibilidade de um acesso gratuito à ciencia até 2020 [7] e, pelo lado contrário, com a criação de novas barreiras ao desenvolvimento cientifico com a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit).

 

Espero que, unidos ou não, públicos e privados, espanhóis, portugueses, europeus e do mundo, caminhem na direção da inovação e do serviço ao melhoramento das condições de vida em todo o seu sentido.

[1] http://www.ine.es/jaxi/Datos.htm?path=/t14/p057/a2014/l0/&file=01001.px

[2] http://www.europapress.es/ciencia/laboratorio/noticia-espana-situa-novena-potencia-cientifica-mundial-20110329202128.html#AqZ1jZAQn0ReZiLS

[3] http://www.ine.es/jaxi/Datos.htm?path=/t14/p057/a2014/l0/&file=01002.px

[4] http://www.fundacioncyd.org/images/informeCyd/2014/Cap4_ICYD2014.pdf

[5]  http://fpcm.es/

[6] http://noticias.universia.es/educacion/noticia/2015/04/22/1123732/investigacion-espana.html#

 
Created By: Carolina Martins Resende Alves Nunes
Published: 06-01-2017 17:40

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