Walter Marques | C13

Edimetal | Luanda

Angola

Angola

Observar a realidade social do país onde nascemos mas do qual estivémos afastados alguns anos tem vantagens e desvantagens.

A principal vantagem é claramente estar consciente da enorme mudança social à que estaremos sujeitos, a grande desvantagem é não experimentar essa mudança noutra sociedade.

As principais cidades de Angola, Luanda sobretudo, vivem neste momento uma enorme turbulência social e urbana.

Essa turbulência a que se assiste, nomeadamente em Luanda, é impulsionada sobretudo pelo crescimento abrupto e super acelerado da economia. Tão acelerado que as infra-estruturas sanitárias, rodoviárias, hidráulicas, eléctricas, portuárias e aeroportuárias, que deveriam anteceder e impulsionar esse crescimento, são reabilitadas, projectadas e construídas depois ou paralelamente a enorme actividade social realizada pelo turbilhão de gente que permanece, sai e entra cada vez mais numa cidade que, inicialmente prevista para meio milhão de pessoas, acolhe hoje cerca de 4 milhões de habitantes.

Por isso, quando chove, vêm-se “lagos” por todo o lado, lixo constantemente por recolher, vias secundárias degradadas e sem saneamento básico. O trânsito de Luanda consegue ser do mais caótico que se pode enfrentar, as filas de espera para abastecer o carro com combustível pode chegar a 1 ou 2 horas, o tempo de permanência de um navio no porto para descarregar chega a 3 meses, o caos burocrático é preocupante, a corrupção diária, envolvendo a mais simples tarefa, como tirar o BI, o passaporte, registar uma empresa ou requerer documentos.

A sociedade urbana de Luanda, fruto de todos os constrangimentos a que está sujeita, possui um ambiente humano onde escasseiam valores básicos como o respeito mútuo, a compreensão ou a generosidade. Para ser reabilitada uma estrutura social organizada, credível e eficiente, o crescimento cívico da população terá de evoluir para patamares próximos da população europeia. A Educação de base é claramente a solução.

Pode-se dizer que a organização da companhia aérea de bandeira é um reflexo da organização do país. A TAAG, concretamente, na divisão de voos domésticos, possui uma ineficiência incompreensível. Há alguns dias tive de deslocar-me para Cabinda, tendo optado por viajar na Taag e passei por situações caricatas.

É indiscutível a vontade de crescimento e afirmação do povo angolano, por isso, é inquestionável o enorme esforço das autoridades angolanas a todos os níveis, desde a construção e reabilitação de infra-estruturas, reorganização das instituições governamentais, reestruturação do sistema judicial e a aposta na melhoria da educação.

Como qualquer país inserido numa economia global, Angola sente neste momento uma visível retracção económica, a moeda nacional desvalorizou ligeiramente face ao dólar americano, o sistema financeiro apresenta um défice de fluidez face ao solicitado, o ritmo de investimentos públicos abrandou, tal como os investimentos de instituições privadas, levados a reboque pela perda de fluidez financeira da banca. Tal como prevê o FMI e outras instituições financeiras, com a retoma económica mundial, Angola acompanhará o crescimento, com distinção.

Ao sair de Luanda e subir para Norte, ir para Este ou descer para o Sul de Angola, pode-se usufruir das mais belas viagens de automóvel.

É nestas ocasiões que nos damos conta do enorme potencial que este país tem, a par de uma enorme riqueza mineral. Angola é um país com uma deslumbrante variedade geológica, um oásis de recursos hídricos, um paraíso de flora e fauna selvagem, uma reserva de culturas tribais ancestrais, um país com um povo alegre, humilde, hospitaleiro e com uma enorme vontade de evoluir para um novos patamares políticos e socioeconómicos.

Angola tem neste momento um forte compromisso para com o seu povo e toda a significativa comunidade estrangeira que nele investe e apoia. Com a ajuda de todos os envolvidos, cabe aos governantes não defraudarem essas expectativas, pois as potencialidades desse país são inquestionáveis.