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Histórias de Chibuto

Carolina Bebiano | C23 | AIDGLOBAL - Ação e Integração para o Desenvolvimento Global | Chibuto, Moçambique

Safira na consulta dos 7 meses de gravidez

Pouco a pouco e de um jeito curioso, vou conhecendo Chibuto e as pessoas, as comunidades, os cantos esquecidos e abandonados que, espalhados por Moçambique, se vão tornando naquilo a que tive a sorte de chamar Casa.

Conheci a Sarifa (na imagem) no Centro de Saúde de Chibuto, em Gaza, Moçambique. Tem 16 anos e foi mãe agora. Com ar de menina-mulher, conheci-a ainda grávida e perguntei se estava nervosa, sorriu-me, confiante, que não e então perguntei-lhe, ingenuamente, se era menina ou menino. Ela respondeu que só vai descobrir quando a criança nascer porque aqui é assim mesmo, não há ecografias, nem testes, nem se ouve o batimento cardíaco dos bebés antes de nascerem. Não há suplementos, nem se fala de sonhos. Pergunto se vai continuar a estudar e, envergonhada, Sarifa responde que vai cuidar do bebé e que o resto logo se vê.

Quando iniciei o estágio do INOV Contacto, em Moçambique, tive a sorte de ser recebida pela Rita e pelo Castigo e escusado foi esconder a curiosidade imediata que tive por este nome. Castigo explicou-me que muitas vezes os nomes são dados à nascença, por circunstâncias da vida e histórias à volta do nascimento da criança. Castigo não sabe, nem quer saber, ao certo por que ficou de cumprir esta pena. São histórias que só a mãe e o pai devem resolver. Conta-me também que, além do nome de registo, há o nome pelo qual são chamados, que é o da família, depois de conhecer o bebé. Depois de invocados os antepassados, é revelado um nome changana, associado a um outro familiar, que surge agora neste corpo de menino.

Se eu não soubesse da guerra, das doenças, dos ciclones e das mortes, era como se por aqui nada se tivesse passado. Se eu não soubesse das dezenas de quilómetros que percorrem a pé todos os dias, que acordam às 4 horas da manhã para ir à machamba ou buscar água, antes de irem para a escola, ou que são as crianças que cuidam umas das outras, se eu não soubesse dos vários kgs que levam à cabeça, que não têm pai ou mãe, ou que a família está dispersa entre as comunidades e África do Sul na esperança de encontrar algo diferente, não notava.

Nestas histórias cruzadas, está sempre presente o ritmo leve, uma paz geral, dos dias que passam e que, desde que continue a chover e exista igreja ao domingo, está tudo bem.

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Created By: Carolina dos Santos Bebiano
Published: 28-08-2019 16:25

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