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O modelo de inovação aberta na indústria farmacêutica

Renato Nolasco | C22 | Bluepharma | Maputo, Moçambique

Inovação

A história da humanidade é cravada por momentos significativos associados à inovação. Tudo aquilo que hoje é fundamental na nossa vida foi, um dia, uma ideia nova que se desenvolveu e chegou às massas, reinventando os paradigmas existentes.

Também a inovação e os seus modelos se reinventam, acompanhando o ecossistema onde se inserem e tornando-se mais eficazes na criação de valor. Uma das ideias que redefiniu este campo foi a “Inovação Aberta”, um novo conceito introduzido em 2003, por Henry Chesbrough, no livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology”.Este paradigma pode ser entendido como a antítese do modelo tradicional de integração vertical, onde todo o ciclo de inovação, da ideia ao produto, ocorre dentro dos confins da organização.

De forma simples, e segundo o seu autor, “a inovação aberta é o uso intencional de fluxos de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir o mercado de uso externo de inovação”. O conceito parece abstrato, mas analisando as imagens abaixo é simples entender a base desta ideia.

No “modelo fechado” (Imagem 1) a inovação é completamente criada e desenvolvida dentro das fronteiras da empresa. As ideias surgem e maturam nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento (R&D), apenas alcançando o mercado se comercializadas pela organização que as criou. A Microsoft, Merck e IBM, são algumas das empresas que alcançaram enorme sucesso com base neste modelo, usando os seus enormes recursos financeiros e departamentos de R&D altamente competentes para inovar consistentemente com resultados positivos. No entanto, este modelo foi-se erodindo e tornou-se menos adaptável à realidade atual.

Agora existe conhecimento e inovação de ponta fora dos laboratórios das empresas, onde os recursos humanos altamente qualificados são mais móveis e os meios académicos produzem avanços científicos e tecnológicos com aplicações comerciais, onde o acesso a capital para inovar é mais simples e a capacidade de partilha de conhecimento a nível global é instantânea e acessível a quase todos.

A par deste desgaste, existia também uma dificuldade dos modelos clássicos de criar valor com ideias que surgiam das pesquisas feitas na empresa, mas que não se enquadravam no seu modelo de negócio, os chamados “Spillovers”.

Modelo de Inovação Fechada

Modelo de Inovação Fechada

Foi para responder a estas incapacidades de adaptação do modelo existente, que nasceu a inovação aberta (Imagem 2), um modelo onde existe uma abertura das fronteiras da empresa a conhecimento externo (outsider-in) e à saída de conhecimento interno (inside-out), sem que este tenha de resultar num produto ou serviço comercializado pela mesma, por forma a diversificar as suas fontes de conhecimento e aumentar as suas oportunidades de criação e retenção de valor.

A entrada de conhecimento pode ser feita através da vigia constante dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos relacionados com a área da industria, do “inlicensing” de direitos propriedade intelectual (DPI) desenvolvidos fora da empresa, de programas de colaboração com as instituições académicas, do financiando de “startups”,da colaboração com fornecedores, intermediários e clientes, da criação de empresas “spin-in”, “croudsourcing”, apenas para enumerar alguns dos mecanismos usados para identificar e assimilar inovação externa.

Por outro lado, a saída de inovação criada pelas organizações permite que desenvolvimentos de outra forma seriam inatingíveis ou cujo valor a empresa não conseguiria maximizar, possam alcançar o mercado através de “outlicensing” ou doação de DPI, “Spin-outs”, da criação de incubadoras externas, promoção de parcerias com outras organizações, entre inúmeras opções.

Modelo de Inovação aberta

Modelo de Inovação aberta

Torna-se agora fulcral olhar para a área da saúde, mais especificamente a indústria farmacêutica, onde segundo dados da Statista foram investidos 159 mil milhões de dólares em 2016, para inovar, sendo a área da saúde uma das indústrias que mais investe em R&D e, no entanto, o número de novas drogas a entrar no mercado vem reduzindo nas últimas décadas.

Nesse mesmo ano a Delloite calculou que para as 15 maiores farmacêuticas o custo de desenvolvimento e colocação no mercado de uma nova droga atingiu os 2 mil milhões de dólares, sendo que este processo demora, em média, mais de 10 anos.

Por forma a otimizar os elevados investimentos em R&D e permitir a sustentabilidade da organização, as mais variadas indústrias farmacêuticas têm adotado o modelo de inovação aberta, para assim poderem recolher os benefícios deste modelo de inovar: a diminuição de custos de inovação, a melhoria da produtividade no desenvolvimento e inovação, a diminuição do tempo de desenvolvimento e o aumento da diferenciação dos seus produtos.

A forma como as diferentes indústrias aplicam este modelo varia significativamente e pode ser segmentado em 4 grupos diferentes com base no seu nível de abertura:

- Knowledge Creator Model - Os projetos de R&D são principalmente adquiridos por meio de parcerias universitárias ou colaborações com outras empresas, sendo usados como um complemento para os principais projetos internos, desenvolvidos com o uso de talentos e recursos internos (Roche, Novartis, etc);

- Knowledge Integrator Model - A maioria dos projetos de R&D é adquirida, ou licenciada, a fontes externas, sendo desenvolvidos e geridos usando conhecimento dos recursos da empresa (Sanofi, Amgen, Merck, etc);

- Knowledge Translator Model - muito semelhante ao primeiro modelo, exceto no facto de usar “outsourcing” e parcerias como uma ferramenta para gerir os projetos de R&D, por forma a reduzir custos ou usar a especialização/recursos técnicos das fontes externas para fazer avançar a inovação (Pfizer, Eli Lilly, GSK, etc);

Knowledge Leverager Model – um modelo menos utilizado na indústria farmacêutica, em que a maioria da inovação é gerada fora da empresa (as potenciais moléculas que podem gerar medicamentos, know-how tecnológico, capacidades técnicas, entre outras), procurando obter o máximo benefício dos recursos disponíveis internamente. Além disso, a inovação é gerida através de uma “rede virtual” de extensas colaborações (Shire).

Uma análise dos principais medicamentos em “pipeline” para este ano mostra a existência de um número significativo de parcerias entre farmacêuticas, por forma a transformar inovação em produtos viáveis. O setor tem beneficiado desta abertura à inovação externa e à partilha de conhecimento, não só através de “joint ventures”, mas também com a compra de projetos em desenvolvimento por outras empresas ou da própria empresa, “spin-out” de projetos de R&D, “outsourcing” de fases do desenvolvimento do produto, licenciamento de DPI a outras empresas ou com criação de parcerias público-privadas (PPP).

Não só as “Big Pharma” usam o modelo de inovação aberta para criar valor, temos também em Portugal bons exemplos da aplicação deste paradigma.

A Bluepharma, empresa fundada e sediada em Coimbra sobre os alicerces de uma unidade de produção da alemã Bayer, tem hoje um par de empresas “Spin off”, que se focam no avanço de projetos de inovação na área da saúde (Luzitin, Treat U), PPPs com instituições de ensino superior (BSIM2), empresas de capital de risco para impulsionar startups e várias “Joint Ventures”. Através destes meios a farmacêutica portuguesa procura impulsionar a inovação e obter os benefícios a ela associados, mesmo que esta não se enquadre no modelo de negócio da empresa mãe.

Num setor como o farmacêutico, que respira inovação e dela necessita para viver, o paradigma da inovação aberta tem proporcionado resultados positivos, ajudando a combater a crise de desenvolvimento de novos produtos que se abateu sobre o mercado. A aplicação destes modelos é a afirmação cabal de uma inversão da mentalidade da indústria, passando a olhar os adversários como parceiros, trazendo benefício a ambas as organizações e ao público, que desta forma tem acesso a produtos que não existiriam com o modelo fechado.

Created By: Renato Xavier Simões Nolasco
Published: 08-02-2019 17:42

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