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Impacto da Visita de Obama a Cuba - Havana tem janelas novas

Filipa Guimarães | C20 | The World Bank - Connect4Climate | Washington DC, EUA

As janelas foram arranjadas, as estradas receberam uma nova camada de asfalto, os edifícios repintados, jardins – pela primeira vez em décadas – plantados, placards de publicidade agilmente modificados. Havana ficou, de repente, diferente. Uma réplica quase perfeita da bandeira Americana esvoaçava em frente ao Capitólio que recebia, agora, um novo passeio. As melhorias na cidade eram óbvias.

Alguns questionavam de onde viria todo aquele dinheiro? A verdade é que ninguém sabia muito bem o que poderia acontecer, mesmo aqueles que esperavam, ansiosamente, algum tipo de mudança – o fim do embargo, por exemplo – no horizonte.

Cartaz de boas vindas a Obama

Cartaz de boas vindas a Obama

Obama chegaria dali a 15 dias. O que iria acontecer? Como seria a receção por parte dos irmãos Castro? Estas e outras questões rodopiavam na imprensa internacional e, principalmente, na americana. No entanto, é aos Ccubanos que o tema mais interessa: desde o início do segundo mandato de Obama que as expetativas sobre uma possível aproximação a Cuba estavam iminentes.

Ainda assim, mais importante que o embargo económico, comercial e financeiro promulgado pelos Estados Unidos durante a presidência de Kennedy, são, naturalmente, as restrições migratórias decretadas pela administração Bush, nas quais um cidadão cubano a viver nos EUA apenas poderia visitar os "familiares diretos" (esposa, marido, filhos, pais, avós, netos – excluindo, assim, primos, tios, sobrinhos e demais família), uma vez em cada três anos, com uma autorização especial cedida pelo Governo Norte-Americano.

Por seu turno, após a Revolução de Cuba, em 1959, o governo Cubano, então liderado por Fidel Castro, esteve na origem de diversos decretos-lei que provocaram três vagas de emigração: a primeira logo após a Revolução Cubana, com a emigração de 200.000 cubanos para os Estados Unidos da América, até Castro ter proibido as viagens regulares em 1962; a segunda, entre 1965 e 1973 (ano em que Fidel suspendeu a emigração legal), período durante o qual mais de 205.000 cubanos fugiram para os EUA.

A terceira vaga de emigração surge em 1980, após grande pressão internacional à qual o governo Cubano cedeu, permitindo que 125.000 pessoas saíssem do país. Mais tarde, em 1994, Castro afirmou que não iria impedir ninguém de sair da ilha. Resultado: mais de 30.000 cubanos emigraram para os EUA. Esta ação motivou um acordo entre o governo norte-americano e Cuba: o primeiro comprometia-se a receber 20.000 cubanos por ano e o segundo admitia o retorno de emigrantes ilegais ao país.

Esta situação originou a separação de milhares de famílias cubanas, agravada pelos constantes entraves que o Governo Cubano tem vindo a impor aos exilados e familiares

Atualmente, o governo de Raúl Castro não permite que cidadãos cubanos deixem o país sem uma autorização do próprio governo. Neste caso, uma viagem não autorizada pode resultar numa ação criminal na qual um indivíduo poderá enfrentar até três anos de prisão.

Obama durante a visita a Cuba

Obama durante a visita a Cuba

A visita de Obama a Cuba veio acelerar uma aproximação entre os dois países. O seu discurso no recém - restaurado Grande Teatro Alicia Alonso animou os cubanos, mas não todos. Obama, seguro e carismático como já habituou a audiência, comparou as revoluções Cubana e Americana, como atos de libertação [dos próprios EUA]; admitiu os erros e aceitou as críticas de Castro para com as anteriores políticas norte-americanas.

Expressou, ainda, a sua vontade de terminar com o embargo, facto que gerou grande empatia por parte dos Cubanos. Naquele momento todos pareciam ter esquecido as deportações e a guerra dos drones, a Crise dos Mísseis ou até a Invasão da Baía dos Porcos. No final do discurso, as opiniões dividiam-se: por um lado aquele era o sinal de mudança mais verdadeiro a que os cubanos se poderiam agarrar, mas, por outro lado, sabiam que Barack Obama não poderia mudar fosse o que fosse em Cuba, teriam que ser os próprios cubanos a fazê-lo.

A carta que Fidel escrevera no dia do discurso de Obama mostrou, claramente, que o passado jamais será esquecido e que os ventos de mudança podem não estar assim tão fortes.

Entretanto, sem a aprovação do Senado, Barack Obama, prestes a concluir a sua função enquanto Presidente dos EUA, nada poderá fazer para terminar o embargo, o que me leva a refletir sobre uma das mais graves consequências do embargo que poderá nunca terminar: a separação involuntária das famílias cubanas impostas por decretos-lei de ambos os governos, a ineficácia da pressão internacional, nomeadamente da condenação passiva da ONU, e ainda a cobertura mediática que apenas menciona o embargo como um "problema comercial", ocultando as constantes violações dos direitos humanos por parte do governo Cubano.

Hilda Morina, cubana, neurologista, grande figura nacional na década de 80, viu os seus direitos violados quando o seu pedido de viagem à Argentina a fim de visitar o filho, Roberto Quiñones, lhe foi negado. Um pedido que o governo Cubano negou pois "o cérebro de Hilda era propriedade" do próprio governo, de acordo com o seu testemunho ao Human Rights Watch. Na verdade, o governo Cubano não permitiu a saída de Hilda por uma simples razão: o filho abandonou o país para viver, até hoje, na Argentina. Hilda continua, desde então, sem o ver.

Obama deu o primeiro passo. A família Castro poderá segui-lo. Os Cubanos estão reticentes: conhecem demasiado bem o seu país e o seu líder; conhecem também o país de Obama e o seu Senado.

Reconhecem, ainda, o provável arrefecimento das relações que um novo governo Americano poderá originar. As eleições em Cuba, agendadas para 2018, anunciam uma mudança arquitetada pelo atual governo. As ruas de Havana voltaram à normalidade e as famílias Cubanas continuam a aguardar que os seus direitos humanos sejam reconhecidos e respeitados.

Created By: Filipa Isabel Flores Guimarães
Published: 19-12-2016 17:53

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