Sou arquiteta paisagista, concorri ao INOV Contacto na perspetiva de ter uma experiência na minha área, no estrangeiro e poder conhecer e viver outras culturas. O INOV deu-me a possibilidade de voltar a pisar o território marroquino, desta vez num contexto diferente.

Aterrei dia 23 de fevereiro, e vim para Dar Bouazza, localidade pertencente à cidade de Casablanca, mas localizada na periferia, a 20 km do centro, longe da descaracterização e do ambiente caótico desta cidade.

Já tinha viajado por Marrocos durante uns dias, percorrendo quase 3000km. Adorei Marrocos, as paisagens áridas do deserto, os vales frescos e verdejantes de Chefchaouen (vulgarmente chamada de cidade azul) os souks (mercado tradicional) a comida típica…

Neste momento encontro-me em regime de teletrabalho há mais de um mês e meio. Tento sair à rua o menos possível, e sempre que o faço levo a máscara de uso obrigatório já há algumas semanas e o álcool gel. O governo marroquino tomou medidas desde cedo para evitar a propagação do COVID-19, decretou o fecho das fronteiras (aéreas e terrestres) a meados de março, bem como o decretar da quarentena obrigatória e a necessidade de ter uma declaração para sair à rua. Tendo em conta estas mudanças o facto de estarmos confinados aos m2 das nossas habitações coloca-nos numa redoma na qual eu me sinto segura.

Continuo a trabalhar no meu horário normal de escritório, e tento ao máximo manter as minhas rotinas, para que as circunstâncias não se tornem “agoniantes” e de stress para mim. Leio o mínimo de notícias, tentando passar ao lado do panorama mundial que se vive, de forma a manter-me tranquila.

A pandemia veio desacelerar o planeta e a nossa exposição constante ao stress. Ainda que num registo extremista de isolamento, acho que é uma boa altura para fazermos alguns exercícios de introspeção e de passarmos tempo connosco próprios.

Vejo este confinamento como um desafio, para me reinventar e adaptar dia após dia para que não perca as minhas metas nem rotinas.

Sou amante de desporto, e nunca pensei ser possível, dentro de casa, fazer treinos tão diversificados e com tão poucos recursos. Sim, digo poucos recursos porque a única coisa que tenho são 2 discos de ginásio, tudo o resto é na base do improviso, que vai desde garrafas e garrafões de água a tapetes antiderrapantes. É um exemplo básico, mas que demostra a capacidade que temos de nos moldar às circunstâncias e tirar somente o de mais positivo deste  cenário em que nos encontramos.

Em Marrocos o Ramadão começou no dia 25 de abril e, por tradição, os marroquinos juntam-se para comer e rezar depois do por do sol até ao nascer do dia. O governo marroquino declarou que entre as 19h e as 5h decorreria o recolher obrigatório durante este mês do Ramadão, reduzindo 2 horas ao anterior horário estabelecido das 18h as 6h. Prolonga-se durante 1 mês, as rotinas deles mudam, e as nossas, consequentemente também. As lojas e supermercados têm horários distintos. É aconselhável respeitar a tradição e crenças, pelo que comer ou beber na frente deles durante o dia é totalmente desaconselhado e considerado ofensivo

Tendo em conta todos estes pormenores, o teletrabalho, neste momento, deixa de ser um cenário desagradável e posso até vê-lo como uma mais-valia. De uma forma geral, se fizermos o exercício de observar tudo o que nos está a acontecer e nas circunstâncias a que estamos “obrigados” a trabalhar e viver (para a nossa segurança) conseguimos sempre encontrar algo positivo ou encorajador para ultrapassar esta fase da melhor forma possível.