A maior vantagem de estagiar num país fora da Europa é estar num sítio onde nunca pensei ter a oportunidade de estar tão cedo.
Para uma pessoa que nos últimos anos se dedicou por completo aos estudos, consequentemente não auferindo rendimentos substanciais, pensar em visitar a América Latina era um sonho distante, devido aos custos associados, quando comparados com a Europa.
Quase três meses depois da minha chegada, ainda tenho muitos momentos em que reflito na sorte que tive. Apesar de outros destinos exigirem, decerto, uma adaptação maior, a Colômbia conseguiu proporcionar-me muitas novidades positivas. Uma delas foi poder viver numa cidade maior que a típica cidade europeia, ou mesmo alguns países europeus, e aprender a lidar com o caos que isso implica: de repente, caminhar 50 minutos para ir do ponto A ao ponto B não me parece fora do normal, principalmente porque, olhando para o mapa, percebo que relativamente à dimensão da cidade, não percorri distância quase nenhuma. Esta experiência veio também contribuir para reforçar a minha crença de quão afortunada sou, por ter nascido em Portugal e no contexto da UE.
Bogotá, alvo de uma evolução nos últimos anos que constitui um grande motivo de orgulho para a população, continua com lacunas que seriam impensáveis no contexto europeu: apesar de uma promessa quase centenária, continua a não existir um sistema de metropolitano, essencial para uma cidade tão populosa. Este, infelizmente, é apenas um exemplo. A linha de pensamento iniciada acima prolonga-se neste parágrafo: apesar de me considerar uma pessoa otimista e apreciadora do privilégio que é ter nascido num país como Portugal.
Estar em Bogotá vai para sempre marcar-me, pela admiração que tenho do carácter do colombiano: vive num país que ainda tem mostras de conflito armado, violência e pobreza e, mesmo assim, é mais sorridente, otimista e feliz do que o típico português, ou mesmo o típico europeu. O facto de ter vivido ou observado tanta adversidade e, mesmo assim, poder experienciar o dia de hoje, torna-o altamente apreciativo da dádiva que lhe foi concedida, da possibilidade de ver o amanhã. A cultura latina tem uma atitude contagiante relativamente à vida.
Do ponto de vista profissional, a maior vantagem é desenvolver a capacidade para identificar, aceitar, e conviver com diferenças de cultura social e de trabalho. Apesar de tais diferenças estarem longe de ser das mais desafiantes neste programa, há sempre ajustes necessários: particularmente, aprender a lidar com a frustração de um “ahorita” ser para a semana, ou no meu caso, que trabalho numa empresa pequena, lidar com uma hierarquia tão forte que o chefe está no seu gabinete com a porta fechada durante a maior parte do dia, atitude esta que vai contra o que aprendi ao estudar estratégias de gestão. Estar consciente destes mismatches culturais, e ter a capacidade de não partir para a crítica imediata, por muito que não se concorde, é das melhores ferramentas que se pode trazer para o mercado de trabalho atual.
Por fim, uma vantagem que aproveito ao máximo é a possibilidade de viajar por preços baixos num país tão rico e diverso, tanto para cidades como para aldeias. Essa tem sido até agora a parte mais enriquecedora da minha experiência.
Em suma, acredito que quão mais drástica a mudança, mais enriquecedora a experiência. Estar fora da Europa, cultivar um mindset verdadeiramente global, estar totalmente distanciada dos meus costumes e das minhas relações e ser financeiramente independente pela primeira vez são, a meu ver, os maiores pontos a favor para o meu desenvolvimento pessoal.
Imagem de destaque: Nina Margarido