Ana Cláudia Barbosa Leão da Costa | C21
Bloom Consulting | Madrid
Espanha
Introdução
A crescente instabilidade mundial é consequência de fatores, tais como a crise económico-financeira, iniciada em 2008, a instabilidade político-governativa no norte de Africa e médio oriente, o ressurgimento do terrorismo radical e violento, o movimento de refugiados e o sentimento de insegurança, entre outros.
Na sequência destes acontecimentos, governos de vários países implementaram políticas mais restritivas, priorizando os interesses do próprio país, como são o casos recentes dos Estados Unidos e do Reino Unido, o que certamente terá consequências no comércio internacional.
Espanha – A Economia
A crise económico-financeira iniciada em 2008, instalou uma tendência mundial de recessão, na qual Espanha não foi exceção. Após anos de crescimento, a economia espanhola apresentou taxas de crescimento negativo, ou praticamente nulo, por consecutivos anos consecutivos. De acordo com o gráfico 1 (infra), o ano de 2014 assinala a prosperidade do ciclo económico espanhol, crescendo a taxas superiores à média Europeia, nomeadamente 1,4% em 2014 e 3,2% em 2015 e 2016.
Gráfico 1 – Taxa de crescimento da Economia Espanhola
Fonte: tradingeconomics.com
A Espanha é considerada a 4ª maior economia da União Europeia (considerando o Brexit), 14ª a nível mundial e prevê-se que em 2017 o valor do PIB deverá regressar ao valor anterior à crise.
A economia espanhola terá já resgatado cerca de 80% da sua riqueza, o equivalente a 95% tendo em conta a evolução dos preços e respetiva inflação.
Exportações Portuguesas para Espanha
A Espanha tem sido, ao longo dos anos, o maior destino das exportações portuguesas, com cerca de 25% do total das exportações.
Adicionalmente assiste-se, a um aumento de 14,3% (gráfico 2, infra) nas vendas para o país vizinho nos dois primeiros meses de 2017, comparativamente com o período homólogo de 2016.
Gráfico 2 – Balança Comercial de Bens de Portugal com Espanha
Balança Comercial de Bens de Portugal com Espanha |
|
Ano |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
Var % 2016/2012 |
2016 Jan/Fev |
2017 Jan/Fev |
Var % 2017/2016 |
Exportações |
10.151,4 |
11.176,7 |
11.284,0 |
12.467,3 |
13.162,8 |
6,8 |
2.033,8 |
2.325,0 |
14,3 |
Posição no total |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
|
|
|
|
% no total |
24,9 |
22,5 |
23,6 |
23,5 |
25 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Fonte: AICEP
Taxa de Empregabilidade em Espanha
Em 2013, a taxa de desemprego em Espanha, aumentou significativamente para os 26%, como consequência da crise económica.
Ao longo de 2016, o mercado de trabalho espanhol criou 413.900 postos de trabalho, revertendo a taxa de empregabilidade para valores análogos ao ano de 2011. Ainda que 2016 conte com 4,23 milhões de espanhóis desempregados, a taxa de desemprego alcança os 18,63%, o valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2009.
Emigração Portuguesa para Espanha
Em 2000 emigraram cerca de três mil portugueses para Espanha, número que passou para cerca de 6 mil em 2014. Como vemos, durante este período de tempo, o número de portugueses a emigrar para Espanha aumentou muito, tendo chegado à entrada de 27 mil portugueses apenas durante o ano de 2007.
A partir da crise de 2008 esta tendência inverte-se e a emigração de portugueses para Espanha, tal como para os outros países europeus, começou a diminuir, embora se mantenha num nível relativamente elevado.
A construção civil foi um dos setores mais afetados pela crise em Espanha. Ocupava uma parte significativa dos imigrantes entre 2000 e 2008, o que explica o decréscimo das entradas de portugueses na sequência do impacto da recessão económica neste país.
Contudo, de acordo com o gráfico 3 (infra), em 2014 o número de entradas de portugueses em Espanha totalizou 5,923, tendo aumentado 12% relativamente ao ano anterior.
Gráfico 3 – Entrada de Emigrantes em Espanha
Ano |
Entradas de Portugueses em Espanha |
Percentagem do total |
Total de Saídas |
2001 |
3 057 |
7,64% |
40 000 |
2002 |
3 538 |
7,08% |
50 000 |
2003 |
4 825 |
8,04% |
60 000 |
2004 |
9 851 |
14,07% |
70 000 |
2005 |
13 327 |
17,77% |
75 000 |
2006 |
20 658 |
25,82% |
80 000 |
2007 |
27 178 |
30,20% |
90 000 |
2008 |
16 857 |
19,83% |
85 000 |
2009 |
9 739 |
12,99% |
75 000 |
2010 |
7 678 |
10,97% |
70 000 |
2011 |
7 424 |
9,28% |
80 000 |
2012 |
6 201 |
6,53% |
95 000 |
2013 |
5 302 |
4,82% |
110 000 |
2014 |
5 923 |
5,38% |
110 000 |
Fonte: observatorioemprego.pt
Conclusões:
No que se refere às exportações portuguesas para Espanha, a instabilidade mundial não se manifestou negativamente no comércio entre os dois países. Pelo contrário, ocorreu um aumento significativo das exportações nos dois primeiros meses de 2017.
Além dos tradicionais laços históricos e económicos, é natural que perante a instabilidade mundial atual, os importadores espanhóis optem por negociações de menor risco e reforcem as suas compras com parceiros tradicionalmente fiáveis, tal como Portugal. Assim, conjetura-se que as exportações portuguesas para Espanha tenderão a aumentar ou a manter o volume de comércio verificado nos últimos anos.
De acordo com os dados da ONU, Portugal tem a segunda maior taxa de emigração da União Europeia.
Há mais de 2,3 milhões de portugueses a viver fora do país, e prevê-se a continuidade desta tendência, tal como a retoma do crescimento da emigração para Espanha, dado o aumento de mais de 12% pelo segundo ano consecutivo.
Apesar do período de instabilidade mundial que se vive, sendo a Espanha considerada a 4ª maior potência económica da União Europeia, e dada a previsão do crescimento do PIB Espanhol e consequente melhoria da situação económica, bem como a diminuição da taxa de desemprego, conjetura-se que estas sejam condições favoráveis que poderão contribuir para a emigração de Portugueses para o pais vizinho.
|