Skip to main content
   
   
Go Search
Extranet InovContacto
  

Extranet InovContacto > Visão Contacto > Posts > Reportagem Quotidiano de um INOV C20 na Publicis, Sófia
Reportagem Quotidiano de um INOV C20 na Publicis, Sófia

Rui Filipe Morim Silva

Publicis AD

Sofia, Bulgaria

Não foi Copacabana, não foi Berlim nem Washington, foi Sófia, Bulgaria.

Todos sabemos o quanto pensamos no nosso próximo destino, que continente, que país; sozinhos ou acompanhados. Todos imaginamos para onde. Mas, para mim, descobrir que empresa precisaria dos serviços de um designer de comunicação conseguia ser mais importante que o país ou cidade.

A Publicis apresenta-se como uma multinacional de origem parisiense com cerca de 90 anos de existência. Espalhada ao longo de 108 países e empregando à volta de 77000 profissionais, o seu produto é a publicidade. Os meios, os recursos, a estratégia.

O Grupo Publicis estende-se pelas mais diversas áreas, tecnologia, consultoria, criatividade, multimedia, etc. O objetivo fundamental é acompanhar o cliente em todo o processo comunicacional. Ajudá-lo a lidar com a constante evolução dos negócios, fornecendo-lhe a orientação e os meios necessários, e sempre acompanhados por um plano estratégico.

Recepção Publicis, Sofia

Pessoalmente, no descortinar do meu destino no derradeiro dia do Campus, não pude disfarçar a minha felicidade. Ver-me relacionado com a Publicis AD, satisfez a minha expetativa,  aumentou a minha vontade de brilhar diante de toda a gente, e abriu gentilmente a porta a uma nova aventura.

Preparei-me como pude, não tive muito tempo, duas semanas não chegam para aprender búlgaro, mas fiz os possíveis. Falei com muitas pessoas, uns cá, outros fora. Tive uma pequena ideia do que me esperava, com quem ia trabalhar, e que tipo de projetos iria ter. Mas nada substitui a nossa própria experiência.

A primeira semana foi e será sempre a mais rápida e fácil de todas. Tudo é novo, as pessoas, a cidade, empresa, tudo. É também nestes dias que toda a gente se preocupa com a tua integração, o que é ótimo. No entanto, enfrentei alguns obstáculos, bons mas por vezes difíceis. E ainda bem.

Inicialmente não tive assim muito que fazer, era o novo menino. Então procurei adaptar-me e conhecer melhor as pessoas que partilharam escritório comigo. Todos simpáticos e bastante disponíveis. A parte boa é que toda a gente sabe falar inglês, e na zona onde eu estava, essa era a língua “oficial”. Perfeito.

Tive alguns projetos que serviram de warming-up, trabalhei com ambas as agências mas os primeiros projetos tiveram uma mãozinha da MLS Group. Tendo em conta que eles trabalham muito com estatística e tendências, tive que desenvolver vários conteúdos que representassem toda essa informação graficamente. Desde gráficos e infografias até à paginação de relatórios e apresentações. A parte fixe é que eles confiaram em mim, deram-me muita liberdade para trabalhar.

Eu sei que pode parecer aborrecido, e claro que tudo precisa de ser lógico, ter pés e cabeça, mas há sempre espaço par inserirmos um pouco do nosso orgulho em cada proposta. E isto é importantíssimo, eu procurei bastante o feedback de tudo o que fazia, é muito relevante criar este tipo de situações.

Eventualmente estes momentos deixarão de existir, isto porque se atinge um ponto que se poderá dizer que se conhece o processo, as pessoas e clientes. Tudo isto reduz bastante o tempo de execução, assim como aumenta a eficácia, o que é perfeito para mim e para todos.

E este é o meu primeiro conselho. Nem sempre tive os projetos mais aliciantes mas nada me impediu de me divertir na sua execução. Primeiro cumprir, a seguir, melhorar e depois, “reinventar”. Procurem tornar tudo interessante, e comuniquem, sempre.

Normalmente os meus dias resumiam-se a: assim que chegava, dava uma vista de olhas à caixa de e-mails, confirmava se havia alguma resposta ou feedback, e trabalhava no que me pediam. Quando havia tempo, o que por vezes acontecia: pesquisava uns quantos outros designers que pudessem servir de referência para outros desafios na empresa; ou simplesmente abusava do facto de ser estagiário e tentava acompanhar outros processos fora da minha zona de conforto; e oferecia-me para ajudar quem precisasse ou quisesse.

Havia tanto para explorar que, ser estagiário, me permitia isso. Vi isto como uma vantagem para esmiuçar todos os cantos do Grupo Publicis. Mais tarde percebi que grande parte do Edifício Abacus (local da empresa) pertencia à Publicis, facto do qual  não tinha noção.

Pude conhecer outros recantos entre os quais destaco a Saatchi & Saatchi, uma agência de publicidade mais radical, alternativa e com um ambiente alternativo. Surpreendeu-me ver um espaço assim, e posso dizer que passei um tempinho por lá, mesmo fora do horário de trabalho.

Este espírito mais curioso e interventivo que adotei na minha vinda permitiu-me abrir algumas portas que não estava a contar. Do nada passei a estar presente em algumas situações que provavelmente me iriam passar ao lado, caso não tivesse falado.

Foi muito bom ter mostrado a minha curiosidade e vontade, as pessoas passavam a lembrar-se de mim por causa de outras coisas, como eventos por exemplo. Posso dizer que ao longo do estágio tive vários momentos sem um computador à minha frente. Fui a reuniões, com ou sem clientes; fui a apresentações e comunicados, percebi como se introduzem grandes mudanças num grupo grande como este, e a melhor parte, conheci um número infindável de pessoas.

Na minha cabeça existia um período de 6 meses que tinha para fazer e conhecer tudo o que podia. Não queria de todo ter que voltar com algum tipo de remorso, queria ir com a mochila cheia de coisas novas. Por isso atirei-me de cabeça e assumi os meus objetivos e propus-me invariavelmente para fazer tudo. Repito, ser estagiário é ter esta liberdade e poder estar interessado em tudo. E este espírito mais irrequieto, sincero e ambicioso foi fulcral para que as portas se abrissem e houvesse mudanças em relação a mim. Dois meses depois de ter começado, troquei de departamento para o núcleo da equipa criativa da Publicis, aqui é que as coisas fixes eram idealizadas.

Se porventura tive uma adaptação fácil numa primeira instância, agora teria que o fazer novamente. Apesar de nesta altura já conhecer algumas pessoas daqui, esta vez não foi tão simples como a anterior.

 

A minha secretária, Publicis, Sofia

Escritório (entrada) Publicis

 

Escritório Publicis, Sofia

Neste caso, a maioria das pessoas deste novo local sabe falar inglês, mas por motivos talvez relacionados com a dinâmica de trabalho ou apenas cultural, o búlgaro aqui era a lingua oficial e provavelmente este foi o maior desafio de todo o estágio.

Lembro que na Bulgária o alfabeto usado é o cirílico. Portanto quem não está familiarizado com ele, terá que fazer o dobro do esforço pra traduzir cada mensagem. Primeiro é necessário descodificar cada letra, segundo tentar perceber o significado da palavra que se esconde por trás. Verdade seja dita, caso conseguisse ler fluentemente o alfabeto cirílico, aprenderia mais rapidamente a falar ou entender o búlgaro, mas mesmo assim não é fácil. Estive 2 meses num escritório em que não senti a necessidade de perceber búlgaro e de repente deixei de ouvir inglês.

Não quero ser mal entendido mas, quando se tratava da minha pessoa, eles falavam inglês, mas não deixa de ser frustante não entender uma conversa, mesmo não sendo complicada. Gostaria de dizer que pelo menos entendo o que dizem, mas não é de todo verdade. Assim sendo, a solução que me restou foi simplesmente investir um bocado mais no búlgaro: tentar ler os jornais ou menus de restaurante, tentar algumas coisas básicas como pedir um café, e imitar uns quantos colegas a falar.

Mesmo assim, e como alternativa ao meu búlgaro, achei importante investir um bocadinho mais nas minhas tarefas, fazer tudo melhor e dissipar o maior número de dúvidas possível em relação às minhas capacidades. Foi quase como dizer que o meu búlgaro é o meu trabalho. E a melhor parte é que se fizermos bem as coisas, eles vão querer mais de nós.

Pode demorar ambientarmo-nos, afinal de contas sou Português, sou expressivo, o sangue corre-me nas veias. Com algum tempo começámos a entender certas e pequenas diferenças nos hábitos de cada cultura. Mas dependerá sempre de nós encontrar um caminho. Dizer piadas, sair com o pessoal, fazê-los ver do que nós somos feitos, num país diferente, faz de nós pessoas mais únicas e interessantes.

Há dias em que, por não entendermos o que se fala em redor, se tornam difíceis de passar. Mas é para isso que cá estamos. Se fosse fácil, não tinha piada. Se não assustasse, não era desafiador.

Participei em grandes projetos, uns relacionados com branding, outros relacionados com visuais chave para campanhas publicitárias, muitas sessões de brainstorming e por aí fora.

Sem dúvida que esta nova fase foi mais interessante a nível pessoal. As coisas às vezes resultam, outras não, mas tudo tem um caminho e uma evolução. Por vezes demora a entender os requisitos, não por falta de explicação, mas por, por vezes, o pensamento praticado ser diferente do nosso

De vez em quando as marcas que nós tão bem conhecemos, têm um comportamento e personalidade diferente daquilo a que estamos habituados em Portugal (e isto aconteceu-me um par de vezes, o que é sempre interessante). No fim vamos para casa a pensar, à procura de soluções e novas ideias. O certo é que existem dias assim, uns mais “assim-assim” que outros. Uns não se sentirão tão produtivos, ou as coisas não funcionaram como queríamos, mas tudo tem um porto e 6 meses passam rápido.

No entanto encontrarão muitos detalhes que apreciarão, ora nas ruas, ora no trabalho. Um dos pequenos pormenores de que mais gostei, foi a banda sonora da empresa em todos os seus corredores. Uma coisa simples mas deixava-me bem disposto. Uma compilação de temas eternos, outros que não escutámos tantas vezes, tantas vezes, mas conhecemos e ainda uns quantos que nunca realmente ouvimos. Existem músicas, que na altura exata, podem mudar a tua tarde, o teu dia, ou mesmo a tua semana.

Houve dias que depois de forçar algumas ideias, e passadas horas e horas à volta do mesmo, uma ida à máquina de café era o  suficiente. Nunca me esquecerei de ouvir “We caught in a trap, I can´t walk out” (Suspicious Minds do Elvis) enquanto fazia o meu intervalo de 5 minutos. Ou num daqueles dias em que só pensamos em chegar a casa, despedir-me do escritório ao som de Cat Stevens, "Wild World", é algo satisfatório. São coisas simples, mas por vezes tornam aqueles dias diferentes, e eu gosto disso.

Corredor Publicis, Sofia

A Publicis tem uma simpática e rica biblioteca para os interessados. Uma grande opção de escolha, ora sobre design, ora sobre economia, tudo o que pertença ao mundo da publicidade está lá. Além disso, tem locais ao nosso dispor para simplesmente relaxarmos, muito confortáveis e silenciosos.

No que toca a refeições, têm tudo o que precisam dentro na cozinha da empresa, no entanto no rés-do-chão podem encontrar um restaurante, e no topo do edifício, um café/cantina também muito requisitado. Todos com boas condições e cómodos. E as pessoas, bem essas são brutais. Sem dúvida que fiz grandes amigos cá, e estão sempre prontos para ajudar.

Quarto de reuniões Publicis, Sofia

Varanda Publicis, Sofia

Eu adoraria  conseguir compilar cada passo do meu dia-a-dia, mas não ia bater certo com o diário de um criativo na Publicis.

Tenho mil histórias para contar, mas optei por escolher aquilo que fez mais sentido para mim e poderá fazer sentido para o próximo. Esta experiência fez-me grande, cresci muito, arrisquei imenso e percebi que só foi assim por ser estagiário.

O facto de estarmos à experiência permite-nos isso mesmo, esquecer a pressão, e não ter que saber tudo. Afinal de contas somos estagiários. Temos o direito de questionar, errar, responder e acertar. São só 6 meses para aprender o máximo possível e para alguns esta oportunidade não se repetirá.

Ser estagiário é poder arriscar mais que os outros, é não ter medo, é atirar-nos de cabeça para tudo. É não nos arrependermos e encher a mochila de experiência.

Ser estagiário é destacarmo-nos pelo que somos, é sermos genuínos e não robots. É ter uma perspetiva diferente, é ser outsider e integrar uma equipa.

Ser estagiário é responder a todos os emails, é estar sempre preparado. É desenrascar, não usar desculpas e chegar sempre a horas.

Ser estagiário é não esperar sentado, é criar as próprias oportunidades e dizer "sim" 99% das vezes. Ser estagiário, é seres tu, a tua família, amigos e a tua geração.

É ser isto tudo ao mesmo tempo, mas só uma vez.

 

Created By: Rui Filipe Morim Silva
Published: 15-02-2017 16:57

Comments

There are no comments yet for this post.

‭(Hidden)‬ Content Editor Web Part ‭[2]‬

Visão Contacto