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Investigação e desenvolvimento: Cooperação entre Setor Público e Privado

Raquel Mendes | C20

University Campus Suffolk Ipswich

Reino Unido

 

 

As descobertas científicas, desde o começo da humanidade, têm tido um grande impacto na sociedade: desde a descoberta do fogo até às mais recentes, como a descoberta do Bosão de Higgs, o reconhecimento da importância da camada de ozono e o papel das abelhas para a manutenção da flora do planeta Terra.

 

O impacto destas descobertas na sociedade tem sido cada vez mais relevante e as descobertas de novos conhecimentos e soluções cada vez mais necessárias. Esta evolução foi muito gradual, mas nos últimos dois séculos tem ocorrido um aumento exponencial na descoberta de novo conhecimento. Como tal, tem também havido um crescimento na competição pelo conhecimento.

 

Embora a competição seja uma qualidade propícia ao desenvolvimento de novas ideias, pode resultar também em secretismo, ou relutância de partilhar conhecimento, o que poderá impedir uma melhor colaboração entre diferentes ramos da ciência. Se, como disse Robert A. Heinlein, “tudo é teoricamente impossível, até que seja feito”, é de suma importância divulgar o que já se conseguiu fazer. A investigação, tal como entendida pelo público em geral, ocorre maioritariamente no setor público, em universidades e centros de investigação.

 

Investigadores, alunos, professores, técnicos, todos contribuem para projetos e experiências que se concentram em domínios da biologia, bioquímica, física, humanidades e arte, tendo como finalidade um mais detalhado entendimento do mundo em que vivemos. É uma investigação mais centralizada, talvez, na procura de conhecimento por si só, sem objetivos práticos ou cujos objetivos de aplicação estão centrados no futuro.

 

Organizam-se em grupos de investigação especializados numa área específica de conhecimento. Dentro de cada grupo a troca de informações ocorre naturalmente através de reuniões frequentes para discutir o trabalho de cada um.

 

Dentro de uma mesma instituição/entidade, ocorre ainda alguma (por vezes limitada) troca de informações, quando, entre grupos complementares à procura de novas ideias os investigadores partilham os seus problemas e as suas dificuldades na esperança de obter respostas.

 

Na comunidade científica como um todo, contudo, a troca de informações torna-se complicada. Embora o estabelecimento de contactos seja essencial para um cientista prosseguir na sua carreira, ocorrendo trocas de ideias e de diferentes técnicas, a partilha de resultados não publicados não só é escassa, como é feita com certa relutância por parte dos investigadores.

 

Esta relutância tem uma lógica inerente: num mundo em que a publicação de resultados em artigos para revistas forma a base de avanço para um investigador na comunidade científica, a partilha de resultados pode resultar num roubo de propriedade científica e perda da hipótese de publicação e de evolução na carreira.

 

Consequentemente, poderá acontecer que dois cientistas em lados opostos do mundo estejam a trabalhar na mesma matéria sem saberem, quando poderiam concentrar-se em matérias complementares.

 

Já no setor privado a história é um pouco diferente. Aqui predomina a investigação e o investimento com o fim de obter lucro, pelo que a base da partilha de informação se torna inerentemente mais restrita. A empresa que tenha domínio sobre uma certa área não irá partilhar as suas técnicas e métodos com medo da concorrência e, consequentemente, perda de lucros. Assim, a prestação de serviços ou equipamentos específicos pode pertencer exclusivamente a uma empresa ou indústria.

 

Contudo, as empresas e indústrias também possuem unidades de investigação e desenvolvimento, onde os objetivos de produzir produtos para venda são planeados a longo prazo e não para um lucro imediato. Na indústria predomina essencialmente a investigação de tecnologia automóvel, nanotecnologias, rede de comunicações, energia, alimentação, entre outras.

 

Mesmo com objetivos diferentes, tem havido sempre alguma colaboração entre o setor público e o privado. Contudo, a maior parte dessa colaboração envolve a prestação de serviços: seja o fornecimento de equipamento pelas empresas ao setor público, seja a realização de testes específicos e técnicos por universidades ou por centros de investigação. A instalação de equipamento muito sofisticado (como, por exemplo, microscópios) requer a partilha de recursos (software, reagentes, etc.) e da manutenção que é imprescindível para o seu funcionamento continuado. Estes equipamentos necessitam de uma manutenção regular a qual requer, em geral, visitas do técnico da empresa específica que instalou o equipamento.

 

Mas estas colaborações não envolvem mais do que uma transmissão básica de conhecimentos, não ocorrendo aprendizagem mútua. Encontra-se ainda muito entranhada na mente dos investigadores a competição pela descoberta e pela posse de conhecimento. Por este motivo não há nem um evoluir sistemático da investigação, nem uma colaboração que poderia dar mais frutos, tornando a partilha entre o setor privado e o público mais uma transação comercial do que uma verdadeira colaboração intelectual. Por outro lado, os governos e empresas têm feito esforços consideráveis para mudar esta atitude.

 

Com a evolução de novas potências científicas e tecnológicas, como a India e a China, questiona-se se a Europa é capaz de se manter competitiva em termos de conhecimentos e inovação.

 

Vários projetos ambicionam solucionar este problema e baseiam-se num conceito de colaboração interdisciplinar, formando uma parceria entre o setor público e privado. A sua finalidade é responder eficazmente aos desafios sócio económicos da sociedade e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos europeus.

 

A noção básica deste projeto consiste em formar um mercado único de ideias onde investigadores, conhecimento e resultados circulem livremente. Este espaço permite que a indústria e os governos desenvolvam objetivos comuns a longo prazo, tanto em áreas relevantes para a sociedade, como de interesse comercial. Assim, pode atingir-se a resolução de problemas comuns a toda a sociedade europeia, quer no domínio das energias renováveis, para equilibrar a utilização de recursos naturais, minimizar e reutilizar resíduos e diminuir o impacto sobre o ambiente, entre outras.

 

Como disse Edward Teller, “a ciência de hoje é a tecnologia do amanhã”.

 

A cooperação entre o setor privado e público está ainda num estado muito inicial. Ainda existem vários impasses que importa resolver, tais como os múltiplos entraves jurídicos e práticos que impedem a mobilidade de investigadores, as dificuldades que certas empresas têm em estabelecer parcerias com instituições de investigação e, em geral, a carência de recursos necessários para que tais parcerias sejam proveitosas. Mas certas instituições, entre as quais se salientam as universidades, têm feito esforços para desenvolver parcerias, seja na procura de estágios para a realização de teses e pesquisasseja em ajudar no empreendedorismo dos seus alunos.

 

Mais recentemente, nos congressos organizados pelas universidades abre-se espaço à apresentação de novas ideias e ao empreendedorismo por novos grupos de jovens empresários que muitas vezes criam empresas interdisciplinares. Empresas também abrem concursos e prémios na tentativa de desenvolver a empresa e abrir novas oportunidades.

 

Esta cooperação e estes incentivos parecem-me essenciais para o desenvolvimento da Ciência e da sociedade, criando novas ideias e permitindo a sua transformação em produtos ou descobertas úteis para a sociedade e para o nosso planeta Terra.

 

Usando as palavras de Margaret Fuller, “Se possui conhecimento, deixe outros acender as suas velas nele”.

 

Created By: Raquel Albuquerque Simões Baeta Mendes
Published: 22-03-2017 18:20

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